CATA-VENTO

CATA-VENTO

Encontrarás nos campos desertos

Na areia de teu pensamento

Feridas doces da vida, pedra que pisastes...

A poeira do vento trará o lamento!

Ilusões de ótica insanas

Pedra que parecia ferro

Pedregulho macio, sim,

Que só tinha a dizer desejo começo e sem fim

Teus óculos de orgulho não viram ternura humana

No doce corpo, torrão de açúcar...

Escolheste ficar botão fechado no chão lamacento

Eu, flor desabrochada e cravada por teus espinhos.

Verás que deixaste a doçura

No que achavas "ais" de loucura

Cego a procura de destinos

O buscar endoidecido, apenas desatinos.

Tu deixaste a pura gema por carnavais carnais

Teus sonhos leves, agora pesos metais atando-te.

Única luz nos trilhos

De tua cândida metade

Tua parte mais polida, bonita;

Por obscuros passeios do querer tanto

Seios lacrimejaram à tua espera

Enfraquecidos por devorante vontade

Mas na tua memória

Apenas olhos em fingido pranto

Feridas ardem em febre salina

Não havendo tempo no relógio da esquina

Para o retorno, já no mar um tanto morno...

Asas cortadas, costuradas voam,

Duas folhas verdes dançam

Em torno de tuas pesadas pegadas

Ventania faz o moinho girar

Cata-vento dos anos de quase ontem

A terra em agonia a vibrar e irar

A gema brilha e voa ao riso

O ir aos azuis plenos, campos serenos,

Nuvens alvas confundem

O pássaro arrulha e vai pequeno

No buraco da agulha...

Linha do horizonte

E não mais verás...não verás mais ...

A poeira do vento...Lamento...Cata-vento...

Cintia Thomé

Faz parte do livro da autora Cíntia Thomé - OLHOS DE FOLHA MINHA

pela livraria Saraiva

Cíntia Thomé
Enviado por Cíntia Thomé em 26/04/2007
Reeditado em 02/06/2008
Código do texto: T465397
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