O ANJO VINGADOR!
Um anjo que me arrancou do corpo a alma,
No dia exato em que me roubou um beijo,
Me fez arde em labaredas de desejo,
Levou de mim a paz... Levou-me a calma,
E se a pergunto o porquê deste tormento,
Ela sorri e permanece em silêncio...
Nem em comer sinto mais algum agrado,
Dormir não posso antes do raiar do dia,
Parece agora triste o que fora alegria,
Minha existência já se tornou um fardo,
Mas se demonstro para ela o sofrimento,
O anjo, impassível, continua em silêncio.
Por que foras me despertar o coração?
Se não o quisera, deixasse-o dormindo,
Por que foras ascender o fogo extinto,
Ô, meu anjo vingador, por que razão?
Em vão, porém derramo o meu lamento,
Pois o anjo me responde com silêncio.
Por que não levou de mim a esperança?
Bastava a dizer-me: vai-te, cão sarmento!
De ti bem longe ia lamber meus ferimentos.
Mas se ao frio nem me acolhe nem me lanças
Fico ao teu pé, te adorando e padecendo.
E tu, mármore estátua, em silêncio.
O silêncio de meu anjo dói-me o ouvido,
Depois que provei do mel de sua boca,
Arrastou-me ao fel desta saudade louca,
Tendo deixado o pó, outra vez fui abatido.
Porém se grito contra todo firmamento,
Ela suspira...mas suspira em silêncio.
Não ouso esperar de ti uma ternura,
Pois as nuvens são das águias destemidas,
E se também ganharam asas as formigas,
A sábia natureza as separou na altura
O mal que tive foi nascer com sentimentos
E ter que agora ressentir do teu silêncio.
Será que, ao menos, reparas-te a minha dor?
Ou este meu flagelo distraída o ignoras?
Meu anjo, não te percebes mesmo até agora,
Que já me encontro destruído por amor?
Diga que não sabes, pois eu não aguento
Pensar que é maldade o teu silêncio.
Eu mendigo do meu anjo uma palavra,
Que possa libertar minha cativa alma,
- Me esqueça ou eu te amo – isto basta
Para retorná-la, então, a sua antiga casa.
Por que te peço, se não há merecimento?
Não sou digno sequer do teu silêncio.
Não me dirás... não me escreverás nada,
Eu já sabia e agora sinto o teu orgulho,
Não admite nem ao coração mais puro
Que já amou ou que esteve apaixonada.