“Quando meus olhos estão sujos da civilização,
Cresce dentro deles um desejo de árvores”
(Manoel de Barros)
Procura-se
Os meus olhos querem ver a poesia
(como se possível fosse)
E seguem afoitos mundo afora
Passeiam pelo meu entorno
Vasculham minha casa
Olham pela janela
Perscrutam o céu
À luz do Sol
Usam óculos escuros
Pra disfarçar a miopia
E também
Para não passar recibo de doidivanas
O meu olhar quer outra coisa
Olho para o menino que segura
a mão da mãe
Para o velhinho cabisbaixo perdido
em seus pensamentos
vejo o burburinho das ruas
Os rostos contraídos
Mas vejo também de vez em quando
Um belo sorriso
O meu olhar anda sequioso
De encantamentos
De flashes
De rasgos e arroubos momentâneos
de ternura
De bondade genuína
Sem citações bíblicas
Ser bom
Deveria ser filogenético
Nada de barganha
Nada de abusar de Deus
Para o que deve ser rumo
Caminho
Construção
Os meus olhos também estão sujos
Poluídos mesmo do que encontra
À sua frente
Ao seu redor
Em todas as direções
O mundo caducou de vez
Cada um defende sua ideologia
Sua religião
Seu partido
Tudo seu
Tudo meu
E o nosso só quando
O interesse prevalece
Assim como:
“Até que a morte nos separe”
Seria mais sensato dizer:
Até que nossos interesses
Se atrapalhem
Na disputa cotidiana
Por se dar bem
Também tenho sede e fome de verde
De passarinhos
Inaugurando a manhã
Do nascer
E do pôr do sol
Gratuitos e universais
O meu olhar e o meu coração
Andam sujos da hipocrisia cidadã
Da omissão de muitos
Da falta de assunto
Da guerra em todos os sentidos
Os meus olhos e o meu coração
Já se cansaram de falsos amores
Dos que se consideram credores
Da alegria e do prazer
E diante do que o meu olhar apreende
Quando os meus olhos não encontram
A poesia amada
Lá vou eu em busca de um abraço
Daqueles que tiram o fôlego
E aquietam a alma
Aí também me vem um desejo de gente
Que
Como árvore
Espera
Recebe
Acolhe
e...só!
Amarilia T Couto