Lua cheia
Seguia sem rumo, sem prumo.
Uno, bípede primata, apenas santíssima trindade comigo.
Seguia sozinho como milhões ao meu lado.
Nesse hemisfério a estrela do norte não podia me guiar.
Restava-me cruzeiro do sul.
No teto celeste aquele mundaréu de pontos, de outros mundos.
Quieto ficava, não sabendo se eram estrelas ou seus olhos.
Eu achei uma meta, parecia meu destino.
Mas você estava sempre um passo na minha frente.
Sentia seu aroma por onde passava.
Inacessível aos meus sentidos carnais, incandescendo insensatamente a parte alma que me restava para ser alguém.
Eu não era nada, nunca fui, talvez nunca serei.
Eu era areia e você vendaval.
Seguia seu rastro pela lua cheia, faminto lobo com fome de amor.
Andarilho, maltrapilho outrora rei.
Andava, vagava num êxodo de mim mesmo, quarenta anos num deserto.
Ainda ei de encontrar minha terra prometida.