Lembra, amor?
 

Lembramor,
de quando começamos, na festa da praça?
Do alto do coreto, eu lhe dizia poesias;
encabulada, você sorria sem graça.
 
E daquela tarde de domingo de chuva?
Colados num beijo na calçada vazia,
não vimos o buraco em frente à prefeitura.
 
Lembramor,
você, com sono e bêbada de guaraná,
eu, encharcado de gim-tônica, sinceros
aos nossos passos de dois pra lá, dois pra cá?
 
Só nós, enlaçados no pequeno salão,
dançando no fim da noite o último bolero
pra sonolenta plateia de três garçons.
 
Lembramor,
você tão furiosa, de mal com a Rita
porque ela disse um dia me achar bonitinho?
Era somente gentileza de visita...
 
Recordo de você na cena tal como hoje,
louca de ciúmes, o mais lindo beicinho,
confinada num canto e me olhando de longe.
 
E agoramor,
um casamento com outro e filhos depois,
ainda resta em você, lá dentro, no fundo,
um fiapo que seja do amor de nós dois?
 
Meus lábios teimam guardar dos seus o carmim,
indelével lembrança de amor tão profundo.
Você, amor, será que se lembra de mim? 


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N. do A. – Na ilustração, Momento de Carinho de Pino Daeni (Itália, 1939 - EUA, 2010).

João Carlos Hey
Enviado por João Carlos Hey em 12/01/2014
Reeditado em 21/10/2022
Código do texto: T4646192
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