Quando Vejo Meu Amor
Dia frio, céu cinzento.
Sem coragem de levantar
Fico, no leito, a escutar,
À janela, o assobiar do vento.
Entra ele pelas fendas
Da parede de madeira,
Sibilando suas palavras
Por sobre minha cabeceira.
Tento entender o que ele diz,
A boa nova que vem falar.
Será que ele quer dizer
Que em breve ela vai chegar?
Deitado, naquele quarto,
Encolho-me como um bicho.
Seguro em mãos o seu retrato
E o seu nome logo cochicho.
Sinto as lágrimas molharem
Como orvalho sobre a flor.
Como pode a saudade
Sobressair-se sobre o amor?
Sobressalto de minha cama,
Quando a porta abre ligeira.
O sol entra como a chama
De um fogo que incendeia.
O retrato ponho ao chão.
Num impulso estou em pé:
Aqui está minha mulher,
Meu amor, minha paixão.
Da janela para fora
Permanece a morbidez,
Mas dentro de minha alcova,
Assim, aqui e agora,
Sinto a vida outra vez!