Quando Vejo Meu Amor

Dia frio, céu cinzento.

Sem coragem de levantar

Fico, no leito, a escutar,

À janela, o assobiar do vento.

Entra ele pelas fendas

Da parede de madeira,

Sibilando suas palavras

Por sobre minha cabeceira.

Tento entender o que ele diz,

A boa nova que vem falar.

Será que ele quer dizer

Que em breve ela vai chegar?

Deitado, naquele quarto,

Encolho-me como um bicho.

Seguro em mãos o seu retrato

E o seu nome logo cochicho.

Sinto as lágrimas molharem

Como orvalho sobre a flor.

Como pode a saudade

Sobressair-se sobre o amor?

Sobressalto de minha cama,

Quando a porta abre ligeira.

O sol entra como a chama

De um fogo que incendeia.

O retrato ponho ao chão.

Num impulso estou em pé:

Aqui está minha mulher,

Meu amor, minha paixão.

Da janela para fora

Permanece a morbidez,

Mas dentro de minha alcova,

Assim, aqui e agora,

Sinto a vida outra vez!

Daniel Pires
Enviado por Daniel Pires em 09/01/2014
Reeditado em 09/01/2014
Código do texto: T4642961
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