Felicidade mórbida
Vivo da poesia e do descaso
E da felicidade mais remota
Meus dias jogados ao acaso
Sigo sem destino ou rota.
Sou uma pedra atirada no lago
Não insisto em resistir
A voz se dobra ao engasgo
Os ouvidos tropeçam em ouvir.
Sou uma pena escrevendo no papel
Coisas sem vida, sem poesia
Que saem do peito em carrocel
Sem brilho, doçura, porém, nostalgia
Sou a poeira esquecida na estrada
pelos pés que a usaram em travessia
Sou o frio rondando a madrugada
Sou o calor ardendo ao meio-dia
Vivo sendo coisas que não sou
Vivo sem essência no meu ser
Vivo no chão a alçar voo
Inoculo solidão pra entorpecer.
Vivo, somente vivo
Só existo por existir
Vivo, simplesmente vivo
Estou aqui por não está ali...
Me consome fria e abstrata
Vida que me alimenta
De um sentimento que mata
De uma brisa que me inventa.