Cigarra canta no pau oco.
Canta para morrer, canta até esmorecer.
Chuva tosse de arranco;
trovão pula no céu, corisco rabisca na terra o alvorecer.


Navio apitou! Lá na barra aportou.
Marujo desceu do mar, no solavanco e no tranco.
Cambeteou até a terra e no botequim parou!
É seo Zé!  Marujada firmou de solavanco.

Ora, o que se tem! Trovão ribombou, e num salto só; o raio arremessou!
Se for de chuva, cigarra logo cala, não é coisa de se qu
erer em casa de pau oco. 
Seu Zé é de canoa só, é  homem pequeno; pois, grandes são as coisas do divino.
Sendo o que é, se nega a ter parte com coisas de menino,

Não que menino não seja coisa de não se ter a molde de divino,
É que menino homem; seu Zé, se nega ser, diz que é fealdade;
Fazer trote com o destino!

Lá fora navio apitou, vou-me embora que é hora, Zé avisou!
Vou-me embora que é vontade, cigarra no canto elaborou
No céu tem uma lua que é de linda dama, marajuda reavisa o que avisou 
No céu tem sete estrelas e nenhuma é minha, seo zé chorou!


Imagem: Olimpio de Roseh

"Vista da região de  Guarujá, onde reside o autor do poemeto"

Obs. Nos ritos de Umbanda, (religião sincretica e mediunica, genuinamente brasileira, que em dado momento da historia é posta na ilegalidade e tem seus sacerdotes perseguidos, quando não presos). Tem na figura do marujo, a sintese do homem do mar. Sua postura arquetipa é a da homem que por detrás da alegria apresentada, esconde a tristeza da saudade que nunca passa. Marujos são viajantes, poetas, cantores, delirantes amantes das mulheres, rudes e honestos, requintados e insinuantes. São alegria e coragem.

 
Olimpio de Roseh
Enviado por Olimpio de Roseh em 30/12/2013
Reeditado em 31/12/2013
Código do texto: T4630989
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