SOBRAS
O que restou de nós
Não restou
Permaneceu
Nas imagens, visões, retratos
Só se perderá se se me atacar a cegueira.
O que restou de nós
Não restou
Permaneceu
Suspenso na trilha de onde vinha
De onde ia
Só se perderá se se me acabar o ar ou as narinas.
O que restou de nós
Não restou
Permaneceu
Na saliva, na ponta da língua
Só se perderá se se me perder o paladar.
O que restou de nós
Não restou
Permaneceu
No som, vibrando nas paredes, na pele
Só se perderá se me consolidar a loucura.
O que restou de nós
Não restou
Permaneceu
Na maciez de estímulo e pulso
Só se perderá se me desatracar o tato.
O que permaneceu de nós?
Sobrou!
Evoluiu no decurso...
Nos poemas, nos discursos,
Eternizará mesmo sem atmosfera;
Braille se não houver luz;
Sinais se houver vácuo,
Aroma se não houver eco,
Calor se não houver pele,
Beijos enquanto houver línguas,
Palavras, pois ao sentido adere-se o idioma.