QUASE INVERNO
Por que estas palavras
tão dóceis,
tão sublimes,
tão alvas
que me ofertas
em nosso arrebol,
se depois
me trazes a violência
do verbo
e o silêncio petrificado
de uma solidão?
Por que essas caldas
tão cálidas,
tão extasiantes,
tão deliciosas
com que abarcas
meu corpo,
se depois me deixas
náufrago
e me espremes
como o sumo amargo
de um limão?
E por que esse voo
tão alto,
tão singelo,
tão encantado
que comigo sonhas,
se depois me quebras
as asas
e me lanças
rasante aos chãos?
Antes,
que não sejam metades
nem avessos
– que nem tão forte
é meu coração –,
mas sim absolutos
os momentos
de te amar,
como se fosse uma última
e muito diferente
canção.
Péricles Alves de Oliveira