Ao Poeta Manoel de Barros
Caro Poeta Manoel de Barros**
A dor de quem ama
um homem que vive dos lindos ou tristes versos
Que sonha ou sonhava com olhos abertos
Com todas as manhãs em brilhos amarelos
E frutos vermelhos morangos e maçãs
Agora olhos em lágrimas derramadas em papéis
Sem pés para a estrada
Sem estrada para os pés
Navegar sem águas
Sem proa nas águas
Sei esta dor que é tamanha
É perguntar quantas vezes
Porquê?
Onde você ainda tinha amor e contentamento
Uma dor ainda não sentida
E passar o resto dos dias com as mãos postas
Vazias ou com a caneta sem tinta
Em frente ao "word"sem nenhum "start"
Sem ninguém te dar qualquer sinônimo
Não existe, ninguém sabe
Apenas a quem fez doer, doer...
Porquê?
Sei bem o que é isso
Nunca será mais o mesmo Poeta Homem
Um filme que virá tantas vezes
Título no rosto
Em curta ou longa
Sem fim, "replay" insano!
Corte profundo!
Com teu braço descansando no céu
E você aqui fazendo, mentindo versos
Que a Paz existe, que a Terra é boa e pode-se arar
Arar o quê?
Se teu filho está abaixo dela
E você aqui com flores
Flores que com o sol e o frio
Morrem, como uma mãe, um pai
lentamente....
Sei bem a dor, que não consigo escrever
Para que você possa enfrentar mais um dia
E dar Graças que é um dia a menos...
Suportar a ausência do Amor
Mas fique certo
Que só alguns é dado essa chance
De saber e sentir a insurreição, a perda do filho
E do futuro de teus versos
Que são papéis pesados
Escuros onde se escreve em branco
Noites e noites já não tão estreladas
Apenas a tua estrela que vês real
Anjo que não disse adeus
Mas disse Mãe ou Pai
No capítulo primeiro e final
Dias com claridade do que não se tem
Sem definir os próximos amanhãs e o depois
Dias largos e insuportáveis
Olhando acima do horizonte
Na janela, na varanda,
na cesta sem vermelhas maçãs
Na cadeira ao lado vazia.
Março/2007
**Manoel de Barros
Poeta Contemporâneo Brasileiro