Sereno, sereno
Sereno, sereno, sereno
Calmo, edificante
Sereno, sereno, sereno
Lindo, inebriante
Sereno, sereno, sereno
Bastante estimulante
Sereno, sereno, sereno
A madrugada estafante
Não perturbou na calçada
As marcas sutis do sereno
Que foram também encontradas
Nas flores do jardim da frente
Da casa pra sempre marcada
Pela solidão do coqueiro
Olhando pra rua asfaltada.
Sereno, sereno, sereno
Não acho que estou enganada
Sereno, sereno, sereno
Veneno que não disse nada
E mesmo que houvesse o aceno
Eu sei que seria poupada
Sereno, sereno, sereno
Me encontro na altura do tombo
Do ponto mais alto do fim
Sereno me invade o percurso
E vai me inundando de mim
Acalma-me o tolo discurso
Que, sem ter palavras, enfim
Me diz muito mais que o transcurso
De alguma alegria ruim.
Sereno, sereno, sereno
Me acho enfim seduzida
Pela beleza do vento
Pelas agruras da vida
Quero o meu monumento
Mas me encontro despida
Em pleno sereno, sereno
E aí já estou decidida
Quero me erguer e sair
O sol que parece chegando
Veio pra me seduzir
Recolho o ar no pulmão
Melhor que cheirar é sentir
Com todo o vigor da manhã
A definição do sereno.
Sereno, sereno, sereno
Que chega e logo me abarca
E vai como que me dizendo
Aquilo que nunca me marca
Mas é como um doce veneno
Que tomo e que logo me encharca
De vida, de paz e do pleno
Valor do sereno, sereno
Sereno, sereno, sereno
A noite acaba no dia
Que, belo, amanhece moreno
Mas louro também serviria
E o amor muitas vezes pequeno
No fundo me contentaria
Por ter o sabor do sereno
Por ter toda aquela alquimia
Que só pode haver no sereno
De eterna e sublime magia
Rio, 23/11/2005