DESTINO

- Não tenho tempo.

- É só o que sabe dizer?

Não tem tempo para o filho

(um único filho),

Não da atenção para o amado

(um par deles – ou mais).

Falta tempo para as notícias da guerra do dia

E não há tempo para aquele livro

Emprestado há um ano

E nunca devolvido.

Seu dia a ambição consome,

A mesma ambição

Que amortece seus sentimentos.

A cada instante a tenho mais seca,

Mais dura.

Sou um poderoso transatlântico

De quilha metálica,

Partindo ao meio o azul.

Você é o arrecife

Que se posta no meu caminho

E despretensiosamente me desafia:

Vem...

Ah! O tempo...

Meus dias são para cruzar os oceanos,

Carregando gente feliz, em festa.

Nesse mesmo tempo

Está você postada,

Escondida sob as ondas rasas,

Urdindo morte e desgraça.

Por mais misterioso que pareça,

Nosso destino é o fatal encontro.

Não se pode fugir do inevitável

Por toda uma vida.

Aguardo com paciência

O encontro postergado

Até que violentamente

Se cumpra o prometido.

Meu casco rasgado,

Ancorado definitivamente

No fundo silencioso do mar,

Foi coberto pelos mesmos corais

Que a fizeram.

É quando seremos um só.

Edson de Barros
Enviado por Edson de Barros em 14/12/2013
Reeditado em 18/09/2016
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