DESTINO
- Não tenho tempo.
- É só o que sabe dizer?
Não tem tempo para o filho
(um único filho),
Não da atenção para o amado
(um par deles – ou mais).
Falta tempo para as notícias da guerra do dia
E não há tempo para aquele livro
Emprestado há um ano
E nunca devolvido.
Seu dia a ambição consome,
A mesma ambição
Que amortece seus sentimentos.
A cada instante a tenho mais seca,
Mais dura.
Sou um poderoso transatlântico
De quilha metálica,
Partindo ao meio o azul.
Você é o arrecife
Que se posta no meu caminho
E despretensiosamente me desafia:
Vem...
Ah! O tempo...
Meus dias são para cruzar os oceanos,
Carregando gente feliz, em festa.
Nesse mesmo tempo
Está você postada,
Escondida sob as ondas rasas,
Urdindo morte e desgraça.
Por mais misterioso que pareça,
Nosso destino é o fatal encontro.
Não se pode fugir do inevitável
Por toda uma vida.
Aguardo com paciência
O encontro postergado
Até que violentamente
Se cumpra o prometido.
Meu casco rasgado,
Ancorado definitivamente
No fundo silencioso do mar,
Foi coberto pelos mesmos corais
Que a fizeram.
É quando seremos um só.