A CHAVE
De uma janela e de uma porta,
é do que preciso.
Uma porta para poder entrar,
uma janela para, de dentro,
enxergar o mundo de fora.
Preciso ainda de uma chave,
para encerrar-me com segurança,
com ares de definitivo.
De posse da chave
e com porta trancada,
uso a janela para atirá-la ao longe.
Mas preciso de paredes de pedra,
para que não possa
dar a volta,
buscar a chave
e sair pela porta.
Já com a porta trancada,
com as paredes caiadas, uma janela
e com a chave atirada,
construo o telhado,
última face de um claustro.
Ali estabeleço um reino de paz,
em silêncio absoluto.
Vejo só, as moças que passam pela calçada
e me trazem sorrisos dissimulados,
condoídas pela minha clausura.
Haverá o dia em que uma dessas moças,
menos distraída,
encontrará do outro lado da rua
a chave da porta trancada.
Ela entrará sorridente,
estalando os sapatinhos no assoalho de madeira
e deixará as compras na cozinha.
Será como se ela
sempre tivesse estado ali.
Esse dia, eu sei, chegará.