A CHAVE

De uma janela e de uma porta,

é do que preciso.

Uma porta para poder entrar,

uma janela para, de dentro,

enxergar o mundo de fora.

Preciso ainda de uma chave,

para encerrar-me com segurança,

com ares de definitivo.

De posse da chave

e com porta trancada,

uso a janela para atirá-la ao longe.

Mas preciso de paredes de pedra,

para que não possa

dar a volta,

buscar a chave

e sair pela porta.

Já com a porta trancada,

com as paredes caiadas, uma janela

e com a chave atirada,

construo o telhado,

última face de um claustro.

Ali estabeleço um reino de paz,

em silêncio absoluto.

Vejo só, as moças que passam pela calçada

e me trazem sorrisos dissimulados,

condoídas pela minha clausura.

Haverá o dia em que uma dessas moças,

menos distraída,

encontrará do outro lado da rua

a chave da porta trancada.

Ela entrará sorridente,

estalando os sapatinhos no assoalho de madeira

e deixará as compras na cozinha.

Será como se ela

sempre tivesse estado ali.

Esse dia, eu sei, chegará.

Edson de Barros
Enviado por Edson de Barros em 11/12/2013
Código do texto: T4607667
Classificação de conteúdo: seguro