POESIA EM VOO CAÍDO
Há dias e dias
Noites vazias
Milhas e milhas de amor contigo distantes e vadias
Às vezes não temos uma próxima vez
Não temos uma validez eterna neste mundo
Em que o pensamento é furta cor
Eu te admiro como a abelha admira a flor
Tua essência é meu licor nauseabundo...
Sei que te levo o que não posso te repor
Um beijo roubado tem muito mais sabor
Tu és minha varanda e meu quintal
Onde nasce ervas daninha em estupor
Também nasce entre espinhos o roseiral
As ervas arranco com as mãos
E com as mãos também recolho as rosas de teu perdão
Que deixam perfumes na estação
Para conquistar o teu outonal coração
Tens a alma pura e límpida
Como as nuvens do céu
Devolves nossas lagrimas recicladas e úmidas
Como um bombom desembrulhado no papel
Que nesta madrugada fria com o sereno flertas
Possas não passar por horas incertas
Mais que o sol beije teu rosto neste dia
É dia de poesia embora nos descaminhos desta vida
Haja tanta vida transeunte e tantas pessoas sem risos de maresias
Tantos nauseabundos entrincheirados em suas catedrais de estrias
No redemoinho da síndrome do pânico sem ter pra onde ir
Escondidos dentro de si em que o gato mia pra não dormir
Que suas identidades estão nanicas em gotas meladas de frenesi
Somos todos iguais
Apenas os parasitas são normais...
Como combater o mal
Como ser um ser que vive nos limites
Como ser um ser vivendo no limítrofe
Se nos rasgam por inteiro
Incrédulos nas catedrais
Nossos sonhos são abissais
Nossas colunas se envergam nas espinhas dorsais
Quem somos afinal nas finais dos confinamentos longitudinais?
Somos seres das constelações
Em abstrações que não nos inquirimos
Somos testemunhas cegas do que vimos no jardim do esquecido
Mesmo sem ter olhos pra saber o que eramos
Antes de ter nascido...
Rimos às vezes e é bom sorrir
A tela da vida sempre está no porvir
Mesmo assim deixamos espaços vazios como alimento
Rostos e saudades nos cios do pensamento
Sou tantos e no entanto sou cria
Que no peito silencia a dor de uma saudade
Uma saideira mais tarde talvez
Para que cultivemos uma hora
Em que a hora jejua o dia depois das seis
Numa poesia tardia que contem dezenas de letras
Em que nos condena a solidão que sempre nos colos silencia
A vida nada mais é do que um momento que passou
Ah! Esta dor neste luto negro da madrugada
Nesta falta de noite enluarada o sopro minha alma insuflou
Eis teus negros cabelos sumindo na resma do dia que se apagou...
Sinto tua falta como confluentes
Sempre andamos assim juntinhos
Como rio negro e Solimões
Amando e nos respeitando
Coladinhos assim como pássaros no ninho
Como pimenta e cominho .
Sou esta viga que sustenta o forro
Do meu frio tu és o gorro
Tu és o pronto atendimento do meu socorro
Te amo vasodilatador
Sou paixão em constrição
Sou tua fé em contrição
Sinto no teu peito minha absolvição
Sem você estou no cativeiro
Peregrino da solidão
São belas curvas de letras em burburinhos de sonhos
Que divagam a perspicácia verbal em contornos verbais
Qual ave noturna a se debruçar sobre
A presa da inspiração de meus ais...
Só uma coisa me incomoda o tempo que nos falta
E quanto mais nos falta mais ele cobra
Como uma cobra que engole a calda
Volta e se esvai... Eis que tudo escorre
Um dia volta à vida como um pássaro
Que se perdeu e encontrou a vida dentro de uma gaiola
Por medo do mundo livre que é criança cheirando cola
Que estava sem rumo sem escola
Cujo aprumo o bêbado corria livre
Como num copo de cubra libre se evola.