SENTA AQUI

SENTA AQUI...

Senta aqui do meu lado

Retire tuas asas, tuas unhas,

Teu casaco deixe na cadeira.

Escute só os nossos corações

O relógio parou

Só escutemos o coração

Senta aqui do meu lado

Deixe-me alisar teus cabelos

Não vamos repetir nada

Pois esta será a última atitude

Pois a escada no corredor

Já sente a dor

de tua última presença

Senta aqui do meu lado

Escute a nossa respiração

Quase ínfima quase inaudível.

A emoção nem fôlego têm

Abra a janela, a pomba não está no parapeito.

A paz está indo com você

Não chore, pois eu não vou chorar.

O amor foi já tanto

Que penso só na felicidade de ter tido o possuir

Pranto agora seria macular

nosso amor tanto

Senta aqui do meu lado

Não olhe teu pulso, olhe pra mim.

Quero a tua imagem perpetuada

Olharei em teus olhos, teu corpo.

Não tens hora, mas sim o agora.

Não diga nada...

Levanta... Leve teu casaco.

Terás frio em todas as ruas

Sentirás nua a vida toda

A chuva virá espelhar o teu vidro

Será vidro marejado, turvo,

E nele vais lembrar que aqui

Também estará chovendo

E ao fundo ouvirei

O barulho do teu andar

Teus sapatos saltos a musicar

O adeus... Música que foi sumindo...

Sumindo...

Senta aqui do meu lado

Digo isso todos os dias, todos os anos...

Estarás bem? Estarás agasalhada?

Eu sei que estarás perdida,

O coração sem o bater,

Como as asas daquela pomba que se foi

E não as ouvi e nem vi mais

Apenas repito sem saber por quê

"Senta aqui do meu lado, tire os sapatos”.

Cíntia Thomé

Faz parte do livro da autora Cíntia Thomé - OLHOS DE FOLHA MINHA

pela livraria Saraiva

*Direitos Registrados - Não copie.

Cíntia Thomé
Enviado por Cíntia Thomé em 22/04/2007
Reeditado em 07/02/2010
Código do texto: T459916
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