Montanhas e Mares

Eu escalo montanhas inacessíveis.

Eu me agarro em sonhos que não vou realizar.

Talvez por querer sempre ter a esperança, o anseio de alcançar o amor ermitão que lá mora.

Quando chego perto, me saboto.

Meu motim faço sozinho, senha e contrasenha, um espião duplo em minha alma.

Lamentavelmente advérbios, provérbios pra me ajudar a não esquecer.

Estou a um passo.

Retrocedo.

Não sei o que fazer se der certo, porque normalmente, nada dá tão certo pra mim.

A vida segue a meu despeito, a seu respeito muito pouco sei.

Uma sina, um desejo, um destino...

Desatino.

Penso, penso, penso.

Tenso meu torso, torço pra que tudo seja mais uma loucura inventada.

Já não sei o que sinto, ambiguidade que discorda, da corda pra dúvida.

Duvida?

Tem sempre algo que não se encaixa.

Eu não sei me declarar, eu ando nas sombras, sempre andei nas sombras de mim.

Eu não clareio, eu escureço, emudeço e escrevo.

Na realidade, sempre fui aquele naufrago que escrevia mensagens de socorro e lançava-as ao mar.

Mas que mar inacessível e gigantesco é esse seu coração, que não consigo traçar minha rota?