Herança
Sou a herdeira
do sangue poético
de artistas sufocados
pela frieza do mundo.
Sou a herdeira
da própria frieza -
uma aparência
que garante sobrevivência.
Sou a herdeira
do sangue sonhador
que colore os meus dias,
e cuja força, eu nego.
Sou a herdeira
da própria (a pura) negação:
a negação dissimulada
através de bons raciocínios.
Mas sou a herdeira
da reflexão,
da contemplação,
e do boicote
ao que nos é imposto,
e que cedo ou tarde
eu sofreria em mim.
E desta herança tão intrínseca
e naturalmente imposta,
sou a herdeira do amor -
também herdado, mas
confundido (ou confuso),
mascarado, e (por medo)
dissimulado, -
que, ao ser escolhido,
nada mais sobrará.
Mas só o amor
nos salvará.