Homem de Cristal

Taça de cristal nas tuas mãos; eu era assim;

Vezes passavas o dedo em minhas bordas

E eu cantava de prazer, feito um clarim.

Guardado sob o melindre de seus cuidados,

Quando me roçavas os lábios... Ai de mim!

Estremecia como em noites de frio...

Sorrisos, festas e alegrias. Mil tintins.

Um dia. Embriaguez de vinho estranho.

Meu tombo foi tamanho e tão medonho,

Que, arrebentado em mil pedaços eu me vi;

Agora, aos frangalhos, em tarecos e estilhaços, .

Varrido da face dos lábios e das festas;

Tu pisavas em meus cacos, distraída...

Eram tantos e tão pequenos, quase sem vida

Mas cravavam em seus sapatos em desespero.

Meu medo era perder o dom das poesias,

Melar o que há de bom nas melodias,

Cantar a dor atroz das métricas e das rimas;

Noutras verdades, noutros sonhos, noutras bocas...

Ah, e tu, da embriaguez uma vez refeita;

Foste tentar colar os meus caquinhos.

Pois saiba, doce musa distraída, desastrada,

Que no vinho está a verdade nua e crua.

Terás de beber com outra bocas, em outras taças

Que para ti, a que quebraste, vale nada.

Carlinhos Matogrosso.

carlinhos matogrosso
Enviado por carlinhos matogrosso em 21/11/2013
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