UMA PEDRA NA ALMA
Foi a andar pelo silente deserto,
que pude ouvir aquela
harpa de sombras.
Antes, não.
Antes,
era o sino que ressoava à missa,
onde a alva dissimulada
pregava candidezes
de seu altar.
Foi nas frias e solitárias noites,
que pude me esgrimir
daquelas seivas
airosas.
Antes, não.
Antes,
eram os doces néctares do outono artificial
aplicados-me à boca e às veias,
em disfarçadas cópulas
de asas.
Foi nas ébrias angústias e dores
que pude entender aqueles
ominosos voos pelos
cantos e encantos
do mundo.
Antes, não.
Antes,
era o incenso dos sonhos esculpidos
nos delicados tecidos do mar,
com a faustidade
do verbo
amar.
Foi ao fim das miragens abissais
que pude me amortalhar
nos conglomerados
de traumas.
Antes não.
Antes, palavras lumes e dádivas vis
vagueavam pelas sombras
minhas, acendendo-me
o fogo das vesanias
malditas.
Péricles Alves de Oliveira