Perdoe este meu silêncio...

“O silêncio é a minha maior tentação. As palavras, esse vício ocidental, estão gastas, envelhecidas, envilecidas. Fatigam, exasperam. E mentem, separam, ferem. Também apaziguam, é certo, mas é tão raro! Por cada palavra que chega até nós, ainda quente das entranhas do ser, quanta baba nos escorre em cima a fingir de música suprema! A plenitude do silêncio só os orientais a conhecem.” Eugénio de Andrade.

Perdoe-me pelas coisas que eu não te disse.

Estas, com certeza, seriam mais admiráveis

que todas as outras que eu falei e repeti.

Perdoe-me por eu ser reservado sempre!

Perdoe-me pelas coisas que eu não te disse.

Por jamais ter te falado sobre o sabor do teu

beijo. Por ter me calado e não ter te falado o

quanto o teu amor já me salvou nesta vida!

Perdoe-me pelas coisas que eu não te disse.

Por jamais ter falado da magia que tem teus

olhos, o teu sorriso discreto, teus mistérios,

os mais secretos, perdoe este meu silêncio...

Perdoe-me pelas coisas que eu não te disse.

Por ter sempre desviado dos obstáculos sem,

contudo, tê-los tirado da nossa trilha da vida;

perdoe toda vez que pensar em condenar-me...

Perdoe-me pelas coisas que eu não te disse,

pelas noites que eu não te amei; pelos beijos

que eu matei antes de fazê-los nascer. Perdoe-me

agora e sempre, mesmo que eu não te peça...

Se eu me calar de novo, outra vez perdoe-me.

E, quando teu perdão tornar inútil, ouça o meu

silêncio, ele grita que carece de ti, hoje, agora,

e sempre e sempre, mesmo que eu jamais te fale!

IVAN CORRÊA
Enviado por IVAN CORRÊA em 17/11/2013
Código do texto: T4574420
Classificação de conteúdo: seguro