banco de sal 2

banco de sal construído na areia

guardava a certeza de nossos caminhos

e ainda a vertiginosa vontade

das nossas verdades com nossos espinhos

a onda do mar apagando a tristeza

trazendo a beleza pra junto do banco

e junto o meu pranto no meio da espuma

a areia se ajunta, o banco se avoluma

em mim se acostuma a tarde que cai

no mar se projeta o imenso navio

e pelo oceano a saudade se esvai

gaivota no alto voando indefesa

levando a tristeza pra longe do banco

que pro meu espanto era apenas mais uma

o banco de sal eterniza a candura

da vegetação que resiste à areia

destrói no embrião a palavra mais dura

que não se oferece a nenhuma sereia

a brisa do mar cheia de sutileza

se torna a presa mais cara do banco

porque é o manto que o alenta e perfuma

o banco de sal que me sento e não quebra

e dura pra sempre que nem o andaluz

que dura até mesmo mais que o de pedra

porque ele tem tudo o que me seduz

tem a sonolência da tarde e a leveza

das minhas manhãs aqui nesse banco

onde o meu canto sozinho se apruma

quero o meu banco de sal sempre aqui

quero a tristeza que em vão possuí

e a alegria que vai regressar

quando no banco enfim se sentar

a promissora e sonhada sereia

que com a areia tão junto do banco

farão que o meu canto com a paz se reúna

Rio, 17/08/2006