Húmida vela, ansiosa à tua beira
Na beira te observo
Fazendo negaças com as outras
Tremendo e fingindo que nem te alvejo.
Ris de luz para que eu veja quanto brincas
Embora aspires que te mostre o meu desejo
Afim de me levares nu imensurável mergulho
Da tua volúpia que dança
Com a minha às escondidas…
Dizes tanto que me queres
E lês no meu silêncio como num livro aberto...
Mas eu afogo o suspiro dentro do peito
E agarro o coração em fuga
Que deseja o ninho do teu peito aberto.
Preciso que entendas que não basta
Lançar-me contigo num mar deleitoso
E ficar depois esquecida no fundo
Entre algas de esquecimento.
Bem podes brincar e rir com as ninfas,
Fazendo-me negaças, provocando-me ciúme!
Ficarei a enterrar-me caladamente na areia
Aonde te espraias e exaltas.
Travarei comigo o inflamado sofrimento
Até que percebas que tomar-me é beber-te
E misturar-me contigo num só
Como dois afluentes do mesmo rio
Indelevelmente; como águas na foz.
Conhece-me e entende-me.
Fita-me e abraça-me inteiramente
De corpo e alma, indissoluvelmente.
Que enfim o nosso beijo se prolongue sem tempo.
Que cada poro da nossa pele esqueça a quem pertence.
Abrigar-te-ei em mim profundamente,
Sem reservas. Livre e ansiosa,
Trocando carícia por carícia, inteiramente tua!
Nossas águas serão enfim só uma
No âmago do meu delta à tua deriva.
Então faz-te tempestade em altas ondas
E arrebata-me como um barco que naufraga
Sem remissão nem saudade do azul de outrora;
Do sol que lhe escapa para sempre
Pois mergulha feliz no abismo que apetece.
Não abafes os meus gritos, que não sou de silêncios.
Sou como as gaivotas que gritam enquanto sobrevoam águas
E não temem fazer ninhos que flutuam.
Explode dentro de mim bem fundo!
Deixa que o rubor dos meus mamilos erectos
Se desvaneça de encontro ao teu peito,
No ritmo dos corações descompassados.
Escuta-me ao dizer quanto te amo
Como louca que se repete, porque fala a minha alma
Do fundo da sua nudez, quase inconsciente.
Permaneçamos unidos num longo abraço
Comunhão que pacifique os exaltados sentidos
Até que um sono profundo nos tome e refaça
Para acordarmos felizes na ventura da entrega
Para a retoma da batalha inefável,
Em que ambos sejamos conquistadores conquistados...
Bem podes dizer que me queres, com olhares de soslaio
Enquanto brincas em negaças com as outras!
Ficarei tremendo ansiosa à tua beira
Até que entendas que entregar-me significa
Dissolver-me contigo numa fusão infinita!