Tem pena
Desculpe-me se não sou aquele que pode seguir teus caminhos
Em tuas curvas me perdi há muito tempo,
Sou aquele a pedir carona em estradas sem iluminação
Vai ver que sou ainda, a placa de trânsito, um semáforo em construção
Aliás, vê se desconta um pouco de teus problemas em mim,
Teus atrasos são nossos, tua carne, meus ossos,
Ossos do nosso ofício que nunca oficial será, oficioso
Ocioso estou nessa relação, te deixando esvairada, quebrada, amada, dissimulada
Ah, não esquece de falar àqueles que te veem insegura
De que sou a injúria, as carências do teu viver, tua cura
As chagas do sofrer, mas avisa também que nas noites frias
Fui o jornal que soube te cobrir, que teve coragem de aquecer,
De dar um pouco daquilo que não sabia escrever
E quando perguntarem se estás mais magra,
Fala que cozinho mal, que preferes comer na rua
Falar que nunca foi minha e nunca fui sua,
Fala da nossa conveniência de amar sem correspondência
E se quiser pode pichar tudo aquilo que te dei,
As cartas, os chocolates, os beijos,
Terás que arrancar mais do que lembranças,
Uma cama, uma trama, uma memória, um dia, a metade
Por favor, na hora do litígio vê se procura por mim,
Estarei talvez assinando papeis, escrevendo cordéis,
Comendo pasteis, sei lá, vai que eu seja o juiz que decide protelar
A cadeira em que ele sentará, não sei...
Só desejo que no fundo de minha vida você seja o Deus,
Aquele que julgará e que só assim um dia, possas me desculpar
Gabriel Amorim 28-10-2013 http://devaneiospalavras.blogspot.com.br/