poema da madrugada
"POEMA DA MADRUGADA"
Em meio ao silêncio triste de uma madrugada contrita,
O carinho me invade ao velar teu sono;
Deus, todo o ardor, toda a minha alma, tudo o que eu sou hoje,
Respira junto contigo, entrelaça-se na dança surda de um enredo,
Como nas óperas antigas, como nos castelos de ontem,
Quando, em outra peça e vida, eu também já fui seu.
Não sei o que me impeliu a este lago, debruçado sob um vulcão
Não sei o que me tornou um artífice de sua vontade,
Não sei o que fez de mim um eu que nem se sabia, por você;
Eu não sei o que me trouxe e me conduziu,
O que sei é que minha força está devotada à sua alegria,
E eu seria um miserável ser amorfo se eu não tivesse, ao meu lado,
A sua serenidade, o seu amor, a sua força.
Na madrugada, enrubescida pelo meu sentimento,
A poesia ressurge do nada, porque tudo faz sentido,
E ela sempre esteve presente, latente, surdamente eloqüente,
Pois, por um capricho da natureza, a poesia é arredia,
E, como um potro selvagem, galopeia para a floresta desconhecida,
Ao menor risco de um toque ou de um olhar,
Mas, no derradeiro, o meu refúgio sempre foi a sua mão,
Porque a vida só tem sentido quando sinto, no caminho:
Que a vida não retirou o meu poema,
Que o mundo não me fez embrutecer,
Que meu coração ainda palpita e o sangue flui,
Que a passagem dos dias só teve nexo,
Porque nesses dias era você ao meu lado e adiante.
O meu amor vem de outra era, de outro mundo;
não sei do seu paradeiro antigo,
E nem sei o seu destino,
Só sei que ele só fulgura em sua presença,
Minha musa eterna...
Eu a amo, e nisso se traduz a verdade da minha vida.
setembro de 2004
Maurício Muriack de Fernandes e Peixoto