Partilhámos o instante iminente
Num momento instante
em que nos igualámos iguais e tão diferentes
às plantas e aos animais,
fomos tu e eu, o tudo, o todo, o absoluto. Perpétuo
gesto completo e certo, de nos encontrarmos
no epicentro de um verbo, num tempo ainda por chegar.
Nesse instante absoluto em que principiou o Sol
e a Lua declinou na voz avoada dos lobos em alcateia,
no lual da maré-praia. Lá no leito da maré-cheia,
em que encontrámos Glicínias nas margens do amanhecer,
acasaladas virgens, nas espadas rubras de uma mulher.
Regadas na flor do riso de um amor em si a crescer ...
Nesse instante absoluto, a Natureza silenciada
recobriu-se de Goivos, num abrir de braços livres e intensos,
num adocicar os pêndulos dos relógios mais azedos.
E nós, amor... partilhámos então o instante iminente,
em mutismo, em cumplicidade, na dualidade
de sermos unos, iguais e tão diferentes.
Em sigilo, no cantar dos grilos em segredo!