Partilhámos o instante iminente

Num momento instante

em que nos igualámos iguais e tão diferentes

às plantas e aos animais,

fomos tu e eu, o tudo, o todo, o absoluto. Perpétuo

gesto completo e certo, de nos encontrarmos

no epicentro de um verbo, num tempo ainda por chegar.

Nesse instante absoluto em que principiou o Sol

e a Lua declinou na voz avoada dos lobos em alcateia,

no lual da maré-praia. Lá no leito da maré-cheia,

em que encontrámos Glicínias nas margens do amanhecer,

acasaladas virgens, nas espadas rubras de uma mulher.

Regadas na flor do riso de um amor em si a crescer ...

Nesse instante absoluto, a Natureza silenciada

recobriu-se de Goivos, num abrir de braços livres e intensos,

num adocicar os pêndulos dos relógios mais azedos.

E nós, amor... partilhámos então o instante iminente,

em mutismo, em cumplicidade, na dualidade

de sermos unos, iguais e tão diferentes.

Em sigilo, no cantar dos grilos em segredo!

Mel de Carvalho
Enviado por Mel de Carvalho em 19/04/2007
Código do texto: T455765
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