Olhar de quem vê!

Te vi ali, a dormir.

Criei alguns anjos para ti,

refiz alguns sonhos que escorregavam

por entre teus lábios calados e gritavam por

sonhos de outrora,

vi o amor e o despedaçado,

uns pormenores escondidos na sala,

o fruto sob o teto e todos os tetos sob

a mesma chuva.

Amávamos.

Cínicos e deselegantes,

cruéis e desproporcionais,

avessos às regras,

dados às escondidas,

banais quanto ao amor

sexualmente transmissível

nas tardes de domingo.

Evitei os olhares,

mas vi teu sono inocente ao meu lado.

Concupiscências,

circunlóquios,

um versejar desajeitado

que caminhava nos meus bolsos

de estudante para enfeitar nossos dias

e te impressionar no cansaço das ladeiras.

Saudades, amor,

das promessas e das praças,

do entregar-se às mãos

antes da mácula,

da literatura que propunha

tantas outras praças.

Saudades, amor...

Mas deixemos a saudade a sufocar-se

no abismo desse sono, antes que o abismo

da minha sanidade insone te revele

meu olhar (de quem vê!) em forma de desespero.

Marcos Karan
Enviado por Marcos Karan em 02/11/2013
Reeditado em 16/02/2016
Código do texto: T4552780
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