Olhar de quem vê!
Te vi ali, a dormir.
Criei alguns anjos para ti,
refiz alguns sonhos que escorregavam
por entre teus lábios calados e gritavam por
sonhos de outrora,
vi o amor e o despedaçado,
uns pormenores escondidos na sala,
o fruto sob o teto e todos os tetos sob
a mesma chuva.
Amávamos.
Cínicos e deselegantes,
cruéis e desproporcionais,
avessos às regras,
dados às escondidas,
banais quanto ao amor
sexualmente transmissível
nas tardes de domingo.
Evitei os olhares,
mas vi teu sono inocente ao meu lado.
Concupiscências,
circunlóquios,
um versejar desajeitado
que caminhava nos meus bolsos
de estudante para enfeitar nossos dias
e te impressionar no cansaço das ladeiras.
Saudades, amor,
das promessas e das praças,
do entregar-se às mãos
antes da mácula,
da literatura que propunha
tantas outras praças.
Saudades, amor...
Mas deixemos a saudade a sufocar-se
no abismo desse sono, antes que o abismo
da minha sanidade insone te revele
meu olhar (de quem vê!) em forma de desespero.