Sempre o amor......
Guardo minhas lágrimas para as noites solitárias,
E despejo nas trevas meus suplícios,
Guardo minha alegria para os amigos,
A eles destino apenas meus sorrisos.
Meus temores eu afasto com a ironia,
de um homúnculo deveras presunçoso,
Engano os corvos que me espreitam,
Torno meu pavor assim jocoso.
Não esperes que eu me sinta confortável,
Com o amor que me chega sem aviso,
Diante desse espasmo inevitável,
Eu renego e me escondo se preciso.
Não encontro poesia na soberba,
Nem tampouco a ironia me apraz,
Nesse tempo de verdades sempre falsas,
A sinceridade já não é mais tão veraz.
Queria a sabedoria das crianças,
E a candura de quem tanto já viveu,
Busco inquietante o caminho,
De quem sóbrio um dia se perdeu.
Os equívocos que os homens de razão,
Cismam em tornar pra sempre seus,
Tornam-se punhais de fio cortante,
Prontos a culpar pra sempre Deus.
Não quero a mentira confortável,
Nem a promessa que me leve a traição,
Nem passar uma vida inteira,
Implorando a mim aceitar o perdão.
Se impossível for esquecer a raiva,
Que ela passe quando o dente ranger,
Sei que a palpitação mais amarga,
É aquela que me impede de viver.
Pareço-me as vezes alegre,
Que engano até meu eu interior,
Mas não desisto do caminho,
Sigo mesmo se triste for.
Aprendi que o tempo apaga,
O que nenhuma marca deixou,
O verdadeiro mesmo que pequeno,
Cravou-se na alma e sempre ficou.
Tão valioso esse tempo perdido,
Que o destino se encarrega de lembrar,
E o amor, esse eterno efêmero,
Se torna um verbo a me torturar.
Maldito sentimento sem motivo,
Que passa o meu tempo a me enganar,
Maldito também sou eu que aceito,
E sempre estou disposto a amar.