Poesias: 2007 & 2008
1 - Soneto D'alma apartada:
Vida, que de mim, há de partir-se
efêmera e simplória, há de acabar-se
esquiva, de meus olhos, a dividir-se
e n'alma apartada ao corpo, a libertar-se.
Vida, que em suspiro ausente, traz-me a morte
no céu, lança-me a alma, em plena sorte
mesmo que na pele, árdua, doa-me e corte
Roga que a juventude, a vida, importe.
Não me obriga a viver, já sem Maria
Lentos nevoeiros faz-se em mim, Maria
Por tal saudade do insano amor, à Maria.
Maria que a vida, partiu em dor em mim
levando o coração ao Tejo, amor sem fim
Deixando-me na vida, a morte, triste e enfim.
Léa Ferro. SP. 25-05-2007. 13:24 hs
2 - Soneto de Súplica a Deus II:
Tu, em devaneio e credo a sorte
Deus dos montes e das alvoradas
Deus das flores, lança-me a morte
mesmo eu inda jovem, madrugada.
Tu, Deus dos homens desta Terra
Quão sereno? É severo meu acreditar
que Tu, Deus piedoso, bom, me enterra
mesmo eu inda jovem, a amar.
Tu, Deus do sol, da lua, das crianças
Vês, que vejo teu olhar tão distante
inda, a provocar-me, alguma esperança.
Tu de mim, partistes, num instante
deixando-me em crepúsculo, só a lembrança
e a morte em saudade: - amor restante!
Léa. SP. 25-05-2007. 13:43 hs
3 – Oceano:
Oceano. Salgado. Belo. Puro. Lindo.
Os Pássaros sobrevoam o oceano!
Cantam. Alegres ou tristes no ar.
Mas sempre alça voo rumo ao céu!
Na voz do cantor que eterniza a vida
Na letra em poema que surge aurora
Na mata verdejante em suave orvalho
No riso, na glória, no ar, no Oceano.
Em Oceano se fazem amor e sabedoria.
Léa Ferro. 18-06-2007. 09:37 hs
4 - Canção ao Mar:
canção ao mar...
faz-se poema.
eternizar.
amor e lema.
pescador que rema
rumo ao luar!
Léa Ferro, 20-06-2007.
5 - Os poemas:
Os poemas
na gaveta
do quarto
onde repousas
tua prece
em comunhão
a luz
do sol
os poemas
em silêncio
em saudade
em vontade
do viver
os poemas
fazem falta
fazem festa
fazem alta
a madrugada
ao renascer
os poemas
trazem brilho
levam dor
trazem risos
levam cor
a luz
dos olhos
do poeta
trovador
os poemas
são o lema
na estrada
brilha o céu
noite aluada
noite intensa
enciumada
do teu amor
os poemas
viajantes
saltam no ar
verdejante
este luar
em poema
salvador
os poemas
são a glória
de uma vida
em memória
sem despedida
os poemas
são vitórias
são meus temas
são senhoras
e dilemas
na trajetória
do meu amor!
Léa Ferro. SP. 17-07-2007. 17:27 hs
6 – Voar:
Voei.
Num sonho
onde a vida
era tão real
senti teu cheiro
o silêncio de
tuas mãos espalmadas
a música dos teus pés.
Voei.
num dia calmo
em prelúdio ao sol
sentindo o mar
rezei.
e eu, não sabia rezar
e eu, que não conhecia Deus
até te encontrar!
Voei.
numa esplanada de cores
tamborilando amores
chorei.
num brilho do teu olhar
num toque da tua mão
num sonho a despertar
sonhei
vidas que nunca vivi
apenas n’alma senti
tua voz,
a me abraçar!
Léa Ferro, Ericeira, PT, 02-08-2007, 24:12 hs
7 – Tu:
Tu.
Que dás forma à poesia
corre o barro em tuas mãos
docemente
moldas o vaso
do poema em construção.
Tu.
Que na madrugada talhas
o desenho d'alma
dando forma e emoção
rabisca teus versos
na lágrima da canção.
Tu.
Que dás liberdade às letras
que alimenta a paixão
(alça voo pelos ares)
dedilhas na poesia
a voz da melodia
e, lapidas meu coração!
Léa Ferro, Ericeira, PT, 07-08-2007, 23:11 hs
8 – O Pescador:
O sol, ainda dorme
lá vai ele a navegar
faz café artesanal
e seu sono despertar
é madrugada quando sai
e ouve o oceano chiar
o seu remo é a caneta
e sua poesia o pescar
na canoa que o acolhe
dela, ele faz o seu lar
pede a Iemanjá proteção
e de volta a casa, chegar
quando em fartura, a canoa
estiver a carregar
mais que a glória da pesca
faz o seu coração palpitar
pescador, de vida e prosa
pede pra Mãe abraçar
o sorriso de seus filhos
e pra nunca seu amor, chorar
inda, que o mar o leve
este mesmo, faça retornar
os seus pés na areia morna
o pescador possa fincar
pra’no abraço caloroso
dos amigos, amenizar
a saudade, dos longos dias
que ele passa a pescar
vão-se dias... Vão-se noites...
em que sua terra, é o mar
tem na paisagem, a estrela
lua tímida, a orientar
os seus passos, seus anseios
este pleno desejo de amar
amanhece, um lindo dia
em seu coração a brilhar
anoitece, rezam os filhos
pra sempre o pai voltar
pois quando o mar é revolto
faz o peito, em dor, apertar
e Deus, vem sempre em socorro
pra o coração aliviar
traz o pescador sorridente
inocente a cantarolar
mas o pescador é teimoso
nada o faz aquietar
e o sol, ainda dorme
lá vai ele a navegar.
Léa Ferro, Ericeira – PT, 07-08-2007, 15:47 hs.
[ao meu pai]
9 – Em teus olhos:
Em teus olhos
moram cores
as mesmas cores
do mar
moram luzes
e sabores
nascidas
do verbo amar
moram perfumes
e flores
no jardim
do além-mar
moram forças
e amores
sustentando
o caminhar.
Em teus olhos
moram canções
que a madrugada
faz brilhar
moram selvas
e paixões
na leveza
dos pássaros
do cantarolar
moram frutas
e corações
que no mel
faz desejar
moram versos
e sensações
que tu faz
eternizar.
Em teus olhos
mora o brio
mora o ar
mora o rio
mora o mar
mora a estrela
mora o altar
mora a vida
mora o falar...
minha querida
mulher do mar!
Léa Ferro, Ericeira – PT, 10-08-2007, 19:49 hs
10 – Tu:
Tu.
és o meu poema
derradeiro verso
és o meu tema
no universo
és engrandecer
em meu caminhar
és meu viver
e meu despertar!
Tu.
és o meu futuro
e o meu passado
és a esperança
dos dias por vir
és minha lembrança
és o meu sorrir.
Tu..
és o meu poema
és a minha glória
és amor e lema
em minha história
és o meu botão
da rosa a nascer
és meu coração
no entardecer!
Tu.
és dia frio que aquece
és água que fortalece
a raiz dos meus verbos
na luz que enxergo
no doce caminhar
do teu amar!
Tu.
és vida e ar
és meu respirar!
Léa Ferro, Ericeira, PT, 14-08-2007, 18:32 hs
A luz dos olhos teus.
A luz dos olhos teus
não brilha mais que os meus
quando é despertar
e me beijas singela
és brilhante primavera
a me alimentar!
A voz em grave tom
entontece mais que o som
que faz o sol ao cravar
e deitas toda nua
elegante, como a lua
sorrindo ao me amar!
A luz dos olhos teus
enreda-se nos meus
pra vida, embelezar
o mar e o farol
esquivam-se do sol
só pra te admirar!
As rosas com ciúmes
do teu, louco perfume
a me embriagar
e tens-me, toda tua
na delirante pele crua
no crepúsculo do amar!
Léa Ferro, Ericeira, PT, 10-08-2007, 21:05 hs.
10 – Desenhas:
Desenha em meu peito
Uma vontade louca
De despir-te em beijos
Entorpecer a tua boca
Traçar em teu punho
Uma fornalha de cores
Rabiscar em tua pele
As travessuras de amores
Que os olhos mudos
Anoitecem a gritar
Almejando em madrugada
O silêncio de amar!
Desenhas, em meus laços
Com a voz do despertar
Pôr-do-sol não é mais quente
Que o desejo de amar!
Léa Ferro, Ericeira, PT. 05-08-2007. 15:47 hs.
11 – Astrolábio
Guia-me pelos mares da vida
o teu singelo amor
porque teus olhos
são a Lua na negra noite
a dar vida às estrelas
e a brilhar gentilmente
ao trilhar da caminhada
confortando, as embarcações
e tua boca macia
é o Sol ardente
que ilumina os dias
aquece a alma
e embriaga na emoção.
Guia-me pelos mares da vida
e nas marés a beijar a areia
que morna em ternura
acolhe meus pés
porque teu riso é mar
e o alçar do voo em perfeição
das Gaivotas e Andorinhas
a migrar, a outra estação
e tuas brandas mãos
são duas nuvens fofas
a chover no deserto
de satisfação.
Guia-me pelos mares da vida
porque o teu amor
é meu eterno astrolábio
e a tua lágrima
meu eterno oceano
que se faz vivo
ao longe tempo
em além-mar
do coração!
Léa Ferro. Outubro, 08-2007
12 – Segue o sol:
segue o sol
segue a seco
no solo trepidado
com bolinhas de sabão
da inocência
segue o sol
segue o vento
diante a ti
que faz o inverno
antecipar
segue o sol
por que dias frios
estão a chegar
e hás de abraçar
a natureza
segue o sol
da primavera
e degusta o agora
lá fora
somente a lua
está acesa
segue o sol
segue a seco
que ainda
há tempo!
Léa Ferro. Outubro, 08-2007
13 – Primavera um:
(Para Marlene)
Agora a primavera
segue o sol
sentimentos de Domingo
segue o oceano
no conforto
do amigo, abraço
é o amor mais verdadeiro
a amizade
e as flores que causam
perfume e sossego.
agora a poesia segue,
segue o sol!
Léa Ferro, 00:38, Outubro, 08-2007
14 – Primavera:
Agora a primavera segue o sol
inda que esta, tenha ido embora
quando dói, é certo o Outono
e Inverno vêm fatalmente
dolorido e impregnando de pedras
mas para quem ama, gentilmente
sempre será, uma Primavera
estendendo as brancas mãos
delicadas mãos, que na Rosa
traz a simetria dos meus gestos
e o riso dos dias, dela, a Rosa
aqui, hoje é Primavera macia
a colorir a copa das árvores
e o oceano me abraça ternamente
neste céu, que sabe a anis
e acalenta a todas as estrelas
que fazem morada, na poesia
na melodia, silenciosa e clara
a tecer lenta, caminhada
a procurar, pelos dias meus.
Agora, como outrora
a Primavera segue..
segue o Sol.. E segue
os pássaros em revoada!
Léa Ferro. Outubro, 08-2007
15 – Presença ausente:
Está sempre presente
esta tua ausência
a cada minuto
um constrangimento.
Está quase quente
este teu frio descontente
é um corpo, inerte, fervendo
em outro corpo ardente.
Está perto do longe
a distância vulnerável
que agride e controla
reprime e engana.
Está meio que torto
este certo alinhado
destruído, cocho, arranhado
como um cego, em brado.
Está toda de branco
esta nuvem negra
este olhar arregalado
esta paz, qualificada.
Está verde musgo
este mar de sentença
está sempre ausente
esta tua presença.
Léa Ferro. Outubro, 08-2007
16 – Tempo:
É tão ruim este tempo
este templo, tão profundo
é tão ruim, este olhar
são ruínas, que ruminam
que distorcem a imagem
um templo em murmúrios
que persiste no mais
é tão ruim este sonho
um sonho, não se vai assim
não se desfaz os sentimentos
como se desfaz as malas
é impossível, não doer
é impossível, o acreditar
tento entender o mundo
e esqueço, de mim
é tão confuso este tempo
um tempo que rumina
dentro de mim.
Léa Ferro. Outubro, 08-2007
17 – Perdi-me:
Eu me perdi por ai
numa noite escura, sem luar
enquanto me embriagava
e acendia meu último cigarro
observava a madrugada a doer
e ferir os meus pensamentos
tentava apagar as lembranças
das tuas mãos em minha face
mas, tudo que eu fazia.
me trazia, você!
Eu me perdi por ai
em meio à multidão
perdi também minha fé
perdi o que tinha de amor
e a paz do coração
eu perdi os dias
e ganhei as noites sombrias
com alguma, solidão
eu apaguei os passos
e rasguei os livros velhos
que falavam apenas de poesia
vi o fogo crepitar
e queimar, os poemas meus
eles não valiam de nada mesmo
e só falavam de amor.
Eu me perdi por ai
sem planejar me encontrar
ou te perdoar!
Eu me perdi.
Léa Ferro. Outubro, 08-2007.
18 – Soneto de divina luz:
Sorrisos teus, tu vistosa: - Oh madrugada!
Suaviza, serena tez, a contorcida
engana alguma vez, a dor que o mata
ciúme, pranto e verso, na ferida!
Sofrem, as densas horas, que o mar escapa
umedece o campo verde, em desalento
sangra a lágrima cortante, vil como a faca
precisos laços, que mantém, mortal ao tempo.
Chororos versos, inocência infame a suspirar
enfeitiçam-me, no inferno, em tormento
se me é fado: - Que tu ames! ...eu sou luar.
Se és poema, envolve n'alma, o sofrimento
e vestes-te, de nevoeiro, no algoz amar
a trazer-me, divina luz, morte e lamento.
Léa Ferro. SP, Outubro 21, 2007. 11:04 hs.
19 – Lisboa amada:
Lisboa, mulher ardente
te vestes de fado natural
te invernas de temporal
me vestes de amor latente.
Lisboa, mulher amada
te vestes de poesia
me vestes, de tu'alvorada
na alma que irradia.
Lisboa, de estreitas ruas
te alargas co'a magia
inventas, no poeta a poesia
embriaga-os, de lua.
Lisboa, mar de alma intensa
te vestes no despertar
te despes na noite densa
me despes, ao me olhar.
Lisboa, mulher amada
te vestes de boemia
te entregas a nostalgia
me fazes, em madrugada.
Lisboa, mulher do mar
te despes mulher da rua
te entregas ao meu cantar
e deitas-me, linda e nua.
Lisboa, do cravo e rosa
te vestes de jasmim
deitando-me, toda formosa
com teu aroma, de alecrim.
Lisboa, mulher amada
te despes ao delirar
abraça-me em revoada
e sorri, ao me amar!
Léa Ferro. Outubro 21, 2007. 12:36 hs.
20 – Para Astrolábio:
Deixo a musicalidade de a tua presença corromper o meu silêncio.
Nele, entrego-me, sem reservas ou receios da vida que agora tenho
Caminho lentamente e vejo teus passos saudosos ao mar..
Corre inocente, rumo as salgadas águas que o atlântico traz
Onde almejas um mergulho, um suspiro, um afago..
E teus olhos serenos..
Correm pelo céu a admirar as nuvens claras e macias
Que desenham no céu da tua imaginação: - Alguma poesia..
Caminhas sobre as águas e sentes o mar morno invadir-te
E inundar tua alma, molhar os teus pés, saciar tua sede
Caminho e escrevo um poema na areia da praia
Que a onda beija e leva para o outro lado do mar
Teus olhos faceiros, sorriem e mundo ilumina-se
Traz o aroma das flores que a primavera prepara
Deixo-me sorrir contigo e partilho de um cigarro
Mesmo sabendo que isto, não combina contigo: - Sorrimos!
Enquanto espero a resposta das águas claras e verdejantes
O mar devolve o poema em forma de conchas, brancas, e o mar..
.Já não se agita, apenas se acalma e canta a música dos deuses
Embalando-te nos sons que a natureza traz amena
Tua alma alça voos e teu corpo moreno desenha um bailar
Enquanto deixas tua voz soar misteriosa no infinito
Deixo a musicalidade corromper o meu silêncio!
Léa Ferro. Outubro 27, 2007. 16:27 hs.
21 – Sonhar:
(Pra Marlene)
Eu poderia sonhar
a beleza das flores
e dos mares no dia do sol,
mas em nada seria deixado
o excesso a fim de sonhar,
se em meu coração
o amor não fizesse a morada
e o cravasse profundo
do amor uma esperança
certa não tivesse o portal aberto
e o meu olhar sorrindo
canta, o amor dos olhos
no alvorecer!
Léa Ferro, 1º de Novembro de 2007. 13:41 hs.
22 – As marés:
As marés chegam fortes
são os ventos que as trazem
as marés assobiam nas pedras
bailam na areia, antes, morna
as marés trazem os sonhos
são as flores que as criam
as marés sorriem dengosas
falam de amor e de desafios
as marés dançam ao sol
constroem sua história real
e na caminhada das águas
tantas praias modificam-se
mudam o curso dos rios
trazem à areia, as conchas
brancas, malhadas, coloridas
as pedrinhas bem pequenas
enfeitando a natureza
e embelezando o entardecer.
As marés chegam fortes
na suave e doce maresia
as marés são as estrelas
a reluzir do alto céu...
as marés trazem as ondas
que embalam a vida
e destilam-se de mel.
Léa Ferro. Novembro 16, 2007. 22:46 hs
23 – E o sol:
E o sol acorda os que repousam
traz a passarada em revoada
o canto suave na goiabeira
o balanço das folhas de primavera
e o sol traz, as borboletas
azuis, amarelas, marrons...
pousando feliz nas flores
bailando elegantes na grama
encantando o olhar juvenil
e o sol aponta nas montanhas
na serra do mar verdejante
brilha na copa das árvores
enfeitiça os pequenos passarinhos
Saíra, Bonito, Tié Sangue, Sanhaço,
Bem-te-vi, Tucano, Beija-flor...
fazem algazarra na manhã
que inicia-se com um café forte
um bom dia animado e amigo
e traz alguma paz ao litoral
onde os mares cantam
na praia dos pescadores
e as canoas rincham na água
e o sol desperta mais suave
e o sol desperta as crianças
e o sol desperta a emoção
e o sol traz a alegria
e a promessa de um novo verão!
Léa Ferro. (Primavera a florir)
Novembro 17, 2007. 08:36 hs.
24 – Poematizando:
E os nossos poemas
induzem as flores
quando é madrugada
e todas as cores
brilham por um riso
Teu.
Léa Ferro, Lisboa, PT.
06-08-2007. 22:31 hs.
25 – As manhãs:
As manhãs quebram o silêncio
das noites suaves de primavera
os pássaros cantam, cortam o ar
as crianças brincam, pelo lar
o vento leste ameno refresca
trazendo a canção do mar
as manhãs saltam da madrugada
para o sol riscar o céu azul
e iluminar a caminhada fiel
o sol baila ao lado das estrelas
dando vida as begônias amarelas
cativando as margaridas tímidas
as manhãs surgem em efeito
ao véu da noite a imacular
o sono dos anjos peraltas
que enriquecem a imensidão
quando o sol e a luz do céu
as manhãs fortalecem aurora
dão sabor a água do mar
bronzeiam a pele sensível
a caminhar pelas ondas macias
as manhãs fecham o ciclo
e iniciam... Terna fecundação.
Léa Ferro.
Novembro 18, 2007. 09:48 hs.
26 – Águas:
Numa preguiça silenciosa
o corpo estica-se na cama
como um felino após o sono
lança-se o braço, num abraço
para receber os cumprimentos
do dia que está a nascer.
Numa preguiça silenciosa
o sol desponta sorrindo
no pico da serra do mar
muralha verdejante e fiel
a proteger as praias, o vale
a proteger o riso, a fé.
Numa preguiça silenciosa
as borboletas iniciam o bailar
no quintal florido, colorido
e o bem-te-vi salta faceiro
quebrando o dito silêncio
anunciando a doce chegada
das águas de primavera
que preparam o verão.
O silêncio quebra-se nas matas
traz a canção dos passarinhos
o burburinho da cachoeira
o som da chuva passageira
o risinho do bebe acordando
e a melodia suave, em bom dia
dos olhos que espreitam a janela
e sentem as gotas, do céu, cair
aspiram o cheiro de terra molhada
e numa divertida gargalhada
abraçam, no abraço, gentil
o corpo felino a despertar.
O silêncio quebra-se nas matas
numa preguiça deliciosa
e os ruídos do dia anunciam
quão suave é o momento
da voz que traz em fortuna
o calmo, ás aguas, o sentimento
a paz, o brilho, o sol e a ternura!
Léa Ferro.
Novembro 19, 2007. 09:50 hs.
27 – Gota D'água:
Por campo aberto sigo a estrada
que o sol trilha insistente nas manhãs
os dias não são iguais, não se repetem
vejo meus inimigos a caminhar
e seus sorrisos são fartos nos lábios
os olhos desdenham com pressa
não houve um castigo aos errantes
eles nem dão a mão a palmatória
e não tiram o chapéu ao entrar
eles multiplicam as minhas palavras
cuja calma, é apreciada pelos ventos
olho para trás e os vejo a me seguir
já não os temo, mas os desprezo
por vezes, eu os odeio, sem piedade
e não importo-me mais com os pecados
porque ainda sei sobrevoar as águas
e mesmo amordaçado, brado por ai
não há correntes em meus punhos..
..que façam-me desistir nesta estrada
mas só eu sei o que me custa, me mata
deixá-los trilhar a mesma caminhada
que meus pés descalços trilham
e sangram, e gemem, e doem
mas se olho adiante com firmeza
vejo que meus passos estão à frente
e meus inimigos apenas tentam..
..em vão, alcançar-me!
Léa Ferro.
Novembro 30, 2007. 11:39 hs.
28 – A partilhar:
Hão de as marés trazerem os sóis
que inebriam as flores em primavera
e destilam d'alma as sensações
tocar-se-ão as pétalas das rosas
entrelaçadas pelos ventos amenos
e as gotas d'água tocarão tua face
que serena, há de sorrir no crepúsculo
por já não mais temer a escuridão.
Darás mais alguns passos firmes
e aportarás na morada dos anjos
encontrar-se-ão os olhos tímidos
já sem reservas, sem luxúria
nem dependentes, de tal razão.
Estarão os sinos a tocar baixinho
a anunciar que um riso teu, nasceu
nos dias de bradar aos céus, extremo
a lua vai brilhar, contigo, a partilhar
que estrelas também nascem
de uma necessária explosão.
E aportarás, na casa dos anjos azuis
como o céu das primaveras gentis
beberá vinho, no cálice da vida
e tu, alma minha, há de sentir o frescor
que a vida traz, após a imensidão, da dor
da vida, que já não persiste, nem existe
mas que corre co'a esperança na mão.
E aportarás, tu, alma minha, nas nuvens
onde o repouso há de libertar-te!
Léa Ferro.
Novembro 30, 2007. 12:32 hs
29 – Rainha do mar:
Ela tem o dom de acalmar
Ela vem à noite abraçar
Ela faz canção em alto mar
Ela brilha mais que o luar.
Rainha Iemanjá.
Que nas águas serenas caminhas
com as mãos cheias de estrelas
e nas noites quentes embalas
o amor em completude ao céu
sorris faceira quando é madrugada
a preparar as novas manhãs.
Rainha do mar..
Mãe das borboletas, das aves
dos pescadores, das flores
dos poetas e dos amores..
Rainha do mar..
mulher das águas salgadas
que perfuma a alma
que se enche de lua
que se faz emoção!
Léa Ferro.
Novembro 30, 2007. 20:17 hs.
30 – Olhos tristes:
(Para a Menina das Chuvas de Flores)
Estes olhos tristonhos.
Em preto e branco
parecem gritar
o que o coração
tenta acalmar
estes olhos tão belos
tão puros e serenos
fazem sorrir
quando o dia
amanhece.
E o beijo se cala no ar!
Léa Ferro. 01-12-2007. 01:22 hs..
31 – O azul das palavras:
O azul das palavras
às vezes se transforma
numa gota de orvalho
numa flor que desabrocha
num luar entontecido
numa tarde a beira mar
tilintando uma canção.
o azul das palavras
às vezes fica clarinho
como céu de janeiro
como cachoeira
de água tranquila
e doce, e serena, e feliz,
de emoção.
o azul das palavras
vem na manhã
deixar um beijo
em cumprimento ao sol
que atravessa as nuvens
e aquece o coração.
o azul das palavras
traz a paz aos dias lentos
que se enchem de emoção!
O azul das palavras
mora num olhar
numa estrela
num luar
e na caminhada
da paixão!
Léa Ferro.
Dezembro 1º, 2007. 10:10 hs.
32 – O mar serenou:
o mar serenou
tendo na paz,
o abraço dela
o mar serenou
e iluminou,
o sorriso dela
o mar serenou,
e ela semeou o bem
o céu clareou
e a lua brilhou
trazendo o meu bem
o mar serenou
e ela sambou
tão bela
o mar serenou
quando ela acariciou
a rosa singela
o mar serenou
calminho ficou
trazendo a canção
do mar que ralhou
e acomodou
o minha emoção
o mar serenou
quando ela caminhou
com estrelas na mão
o mar serenou
e a vida brotou
cheia de paixão
o mar serenou
e Iemanjá abraçou
o meu coração!
Léa Ferro.
Dezembro 02, 2007. 19:26 hs
33 – Marinho:
Eu me vejo. Revejo.
e ouço bem baixinho
o gemido dos teus beijos
a me sorrir de mansinho.
Sinto a pele, desejo.
o teu olhar bem calminho
me embala, o molejo
do teu abraço quentinho.
Eu me vejo, revejo.
teus lábios, tão pertinho
se suspiram, te beijo!
Num tom de azul marinho.
Sinto a pele, desejo.
o mar a me fazer carinho
na doçura, cortejo
o teu olhar, tão clarinho.
Léa Ferro.
Dezembro 03, 2007. 09:57 hs.
34 – Melancolia:
(Para Glorinha Azevedo)
Melancólico olhar
dos lábios tristonhos
e a face a meditar
os mais íntimos sonhos..
desgarrados cachinhos morenos
nas espalmadas mãos
derramam-se serenos
no saltar da ilusão..
é um rostinho que chora
e que pede um carinho
como bebe que implora
o abraço quentinho..
o olhar apertado
e a boca com ciúme
por ter se desfolhado
nas pétalas do perfume..
não precisa de poesia
este terno reflexo d'alma
por ser a própria melancolia
disfarçada em calma..
melancólico olhar
que ameaça um sorriso
e o tempo faz acreditar
que se pode perder o juízo!
Léa Ferro. Dezembro 03, 2007. 18:24 hs
35 – O devorador de palavras:
Todo mundo procura um jeito de se expressar.
Às vezes numa alegria,
às vezes é um pedido de socorro,
outras vezes num silêncio obscuro,
num grito oco que ruge no peito,
...e nem sempre percebemos.
São pessoas que partilham nossos dias
se tornam amigas, companheiras
às vezes, ultrapassam todas as barreiras!
Surpreendem-nos, nos odeiam, nos amam, nos invejam, nos desejam.
Invadem os nossos olhos assustados
com suas loucas e densas palavras
e acabam por habitar nosso coração petrificado
transcendem a alma. Os pés, as mãos!
Leio-as, as palavras, todas elas
como se eu pudesse entendê-las, senti-las
como se eu pudesse ouvir os grunhidos da alma
e devoro as letras que constroem a imaginação!
Em minha latente fome, observo o que dizem
o que escrevem, rabiscam, desenham, cantam, gritam,
e devoro as palavras sem pressa, na noite fria e escura!
Léa Ferro. Dezembro 04, 2007. 23:19 hs
36 – Rock 'n'Roll
Eu queria conhecer
o Inventário
deste tal de Rock ‘n’ Roll
cheio de manhas
com estas manias estranhas
de vinho e uma guitarra
cheia de artimanhas.
com os dedos cheios de som
e mente cheia das letras
loucas e imperfeitas
com as vestes de couro
da voz gritante
da rouca voz.
no palco a poesia
grita bem alto
a melodia
não à noite, mas de dia
geme a guitarra
os dedos gemem
geme a voz
e a alma geme
o Rock 'n'Roll.
Léa Ferro. Dezembro 07, 2007. 12:47 hs
37 – De papo com a Lua:
Óh moça branca, pálida
porque me olhas assim?
Com este sorriso divertido
como se ouvisse e entendesse
as minhas palavras vazias de amor
porque me olhas?
Como quem tenta responder
e criar sonhos ousados
se mortal, te olho de canto
de olhos apertados e sonolentos
e tu apenas balanças a cabeça
guardas as tuas palavras
no meu silêncio incolor
moça pálida das ilusões
te peço: - não me olhes assim por favor!
Léa Ferro. Dezembro 07, 2007. 18:39
38 – Pedido a Lua:
Quando me olhares outra vez
tire as mãos do bolso
engavete os teus pensamentos
e apenas abrace-me
não é preciso sorrir
nem falar dos dias teus
sei, que não percebes,
mas o teu olhar tímido
me sussurra palavras
e as letras esvoaçantes
constroem os poemas
que ainda não fizestes.
Quando me olhares outra vez
joga fora os medos tolos
e não me olhes como quem te ama
mas como mortal abraço
que deseja apenas compartilhar
o pouco que me resta.
.no muito que tu tens!
Léa Ferro. Dezembro 08, 2007.
39 – Um tom de luar:
Teus olhos desenham em minha pele
Um poema
Rabiscas a poeira dos teus olhos
E a sacodes aos ventos
Com mãos oleiras moldas um verso
Em mim
E aguças a minha fome de palavras
Ergues um cálice de vinho tinto
Que não sacia
Mas explora a minha sede
Com a língua altiva e voraz
Sorris...
E meus olhos se perdem neste tom de luar
Onde o breu esquiva-se e exalta-se
Pela madrugada
E tuas mãos ligeiras contornam meu rosto
Invadem o meu sossego
E enlouquecem a minha paz de amor!
Léa Ferro. Dezembro 13, 2007. 10:36 hs
40 – Noite:
O relógio faz tic-tac, tic-tac
Às vezes, parece fazer tac-tic
Quando eu conto atravessado
Por conta de tanto vinho
...Ele faz tic-tac...
Mais de mansinho.
O relógio faz tic-tac
E eu canto um tac-tic
De saco cheio do cuco
Jogo o copo bem no meio
E desperdiço meu vinho.
Melhor...
...É nem saber das horas!
Léa Ferro. Dezembro 13, 2007. 15:45
41 – Livreto:
Em mãos
Folheio um livreto
São só dez páginas
Em branco e preto.
É um retrato falante
Que me apresentou o poeta
Fala do dia comum
Deste moderno poeta.
É um antigo livreto
Do tempo do proibido
Das coisas simples
Do bem vivido.
Não tem rima nem prosa
Escrito quanto eu nascia
Começa quando eu gerada
Termina quando eu já ria.
Vejo a data no poema
E sinto que velha estou
Não pela folha amarelada
Mas por tudo que passou.
O poeta nem sonhava
Que eu recém nascia
Enquanto ele desenhava
Esta bela poesia.
Em mãos...
Folheio um livreto
Saudosa da minha infância
Doce infância em branco e preto!
Léa Ferro. Dezembro 13, 2007. 19:18
42 – Ilusão:
se o sol irradia
calma-mente
mente
a calma
e transmuta
a poesia.
Léa Ferro. Dezembro 13, 2007
43 – Os teus olhos:
Os teus olhos
são duas fagulhas
com essência
da alma contorcida
os teus olhos
nascem ao meio dia
de um sol ponteiro
que me faz
em melodia!
Léa Ferro. (heterônimo: Hera Ravenna) 17-12-07
44 – Soneto de Formoso Tejo triste:
Formoso Tejo triste que me vês
Sorri de mãos estendidas descontentes
Se n’alma dos teus olhos não me crês
Tão pouco me serás belo e contente.
Mas se de olhos castanhos tu me acalmas
E a dor ferida em morte tu me sentes
Serás n’outra partida em glória a calma
Fervor de uma fagulha sorridente.
Formoso Tejo meu que esmaga as horas
Tu és divina cor no meu lamento
Se olhas nos meus olhos e não imploras
Que a dor se esquive em verso ao sofrimento
Tão pouco o pranto em brado do agora
Trará aos rudes lábios, contentamento.
Léa Ferro. Dezembro 24, 2007. 10:34
45 – Soneto em contrapartida: Cais de Sodré.
Nas águas cristalinas, se apossa o frio
E Traz ventos cortantes, aos lábios meus
O poncho não aquece, a alma em rio
Do choro contra a partida, aos olhos teus.
Se clamo em silêncio, meu infortúnio e dor
Não temo nem glorifico, ao grande Deus
Por ter levado ao cais, tão belo amor
E os dias sem despedida, que eram meus.
Nas águas cristalinas, o sol se esquiva
Sodré me arde agora, louco em saudade
Dos beijos de uma senhora, musa e diva
Que o adeus rogou em prece sem piedade
Outrora me foi amante, ninfa cativa
E agora me deixa em dor, só a metade!
Léa Ferro.
Dezembro 24, 2007. 11:00 hs.
46 – Soneto de Lisboa antes viva:
Outrora, viveu Lisboa em mar remanso
Dos passos de lindos olhos, nevada alvura
Viveu, porque contente era descanso
Repouso, nas tardes frias em formosura.
Deitava nua e sorrindo, em meu abraço
Quando a vi, fiz logo voto de querê-la
Pra em desengano sofrer as horas, sem o abraço
Ela é marfim, mesmo aos pedaços, quero tê-la.
Outrora, viveu Lisboa, mulher de riso farto
De noite, em singeleza, vinha em loucura
Ardente, amar-me às escuras em meu quarto
Como estrela peregrina, de infinitas juras
Com luz de alma cadente, causando-me infarto
Pr’agora, a morte em riste, ser desventura.
Léa Ferro. Dezembro 24, 2007. 12:23 hs.
(e a morte faz doer, numa manhã de natal)
47 – Soneto de menino Natal:
Do menino doce e ameno a manjedoura
Nasceram borboletas, cravo e jasmim
Brilhou do céu uma estrela que nos doura
Enfeitiçando de prateadas pétalas o jardim.
Aos homens trouxe a clava dos campos belos
Às mulheres trouxe o manto da esperança
Para brindarem em ternura amor singelo
E de fortuna ver sorrir, cada criança.
Do sol tem o calor no abraço que alimenta
Da lua tem a luz que voa, como um condor
Do mar tem o aconchego etéreo que sustenta
E da brisa a conformidade em esplendor.
Nasceram rosas, pedras, folhas, água e marfim
Deste menino, que é poeta, é sorriso, eterno amor.
Léa Ferro. Dezembro 24, 2007. 17:12 h
48 – Por teus olhos:
Meus cabelos suados
Os teus dedos em meus cabelos
Que se enroscam e brincam matreiros.
A minha pele ardente
A tua pele úmida
Se misturando à minha lentamente.
Os teus olhos acesos
Os meus olhos embriagados
A dividir, somar, totalizar.
A tua voz sussurrante
Na minha voz apressada
A falar, do que nos consome.
O amor que ancora em nosso mar
As loucuras que nos acalmam
E nos causam, tamanha fome.
Léa Ferro.
Fevereiro 10, 2008. 11:01
49 – Solidão:
(Para Astrolábio)
A minha solidão é literária
Só existe em minha dor
Em meus olhos miúdos
Em minha alma abandonada.
A minha solidão é ilusória
Ela não existe! Não.
Porque na verdade
Tu estiveste comigo o tempo todo!
Léa Ferro.
18 de Fevereiro de 2008.
50 – Amigo:
(Para Cronópia Glorinha)
- Amigo é casa?
Amigo é música
É aconchego
Amigo é lar.
- Amigo é casa?
Amigo é ostra
Pérola é amizade
Amigo é mar.
- Amigo é casa?
Amigo é sol
Terra molhada
Amigo é ar.
Léa Ferro.
19 de Fevereiro de 2008
1 - Soneto D'alma apartada:
Vida, que de mim, há de partir-se
efêmera e simplória, há de acabar-se
esquiva, de meus olhos, a dividir-se
e n'alma apartada ao corpo, a libertar-se.
Vida, que em suspiro ausente, traz-me a morte
no céu, lança-me a alma, em plena sorte
mesmo que na pele, árdua, doa-me e corte
Roga que a juventude, a vida, importe.
Não me obriga a viver, já sem Maria
Lentos nevoeiros faz-se em mim, Maria
Por tal saudade do insano amor, à Maria.
Maria que a vida, partiu em dor em mim
levando o coração ao Tejo, amor sem fim
Deixando-me na vida, a morte, triste e enfim.
Léa Ferro. SP. 25-05-2007. 13:24 hs
2 - Soneto de Súplica a Deus II:
Tu, em devaneio e credo a sorte
Deus dos montes e das alvoradas
Deus das flores, lança-me a morte
mesmo eu inda jovem, madrugada.
Tu, Deus dos homens desta Terra
Quão sereno? É severo meu acreditar
que Tu, Deus piedoso, bom, me enterra
mesmo eu inda jovem, a amar.
Tu, Deus do sol, da lua, das crianças
Vês, que vejo teu olhar tão distante
inda, a provocar-me, alguma esperança.
Tu de mim, partistes, num instante
deixando-me em crepúsculo, só a lembrança
e a morte em saudade: - amor restante!
Léa. SP. 25-05-2007. 13:43 hs
3 – Oceano:
Oceano. Salgado. Belo. Puro. Lindo.
Os Pássaros sobrevoam o oceano!
Cantam. Alegres ou tristes no ar.
Mas sempre alça voo rumo ao céu!
Na voz do cantor que eterniza a vida
Na letra em poema que surge aurora
Na mata verdejante em suave orvalho
No riso, na glória, no ar, no Oceano.
Em Oceano se fazem amor e sabedoria.
Léa Ferro. 18-06-2007. 09:37 hs
4 - Canção ao Mar:
canção ao mar...
faz-se poema.
eternizar.
amor e lema.
pescador que rema
rumo ao luar!
Léa Ferro, 20-06-2007.
5 - Os poemas:
Os poemas
na gaveta
do quarto
onde repousas
tua prece
em comunhão
a luz
do sol
os poemas
em silêncio
em saudade
em vontade
do viver
os poemas
fazem falta
fazem festa
fazem alta
a madrugada
ao renascer
os poemas
trazem brilho
levam dor
trazem risos
levam cor
a luz
dos olhos
do poeta
trovador
os poemas
são o lema
na estrada
brilha o céu
noite aluada
noite intensa
enciumada
do teu amor
os poemas
viajantes
saltam no ar
verdejante
este luar
em poema
salvador
os poemas
são a glória
de uma vida
em memória
sem despedida
os poemas
são vitórias
são meus temas
são senhoras
e dilemas
na trajetória
do meu amor!
Léa Ferro. SP. 17-07-2007. 17:27 hs
6 – Voar:
Voei.
Num sonho
onde a vida
era tão real
senti teu cheiro
o silêncio de
tuas mãos espalmadas
a música dos teus pés.
Voei.
num dia calmo
em prelúdio ao sol
sentindo o mar
rezei.
e eu, não sabia rezar
e eu, que não conhecia Deus
até te encontrar!
Voei.
numa esplanada de cores
tamborilando amores
chorei.
num brilho do teu olhar
num toque da tua mão
num sonho a despertar
sonhei
vidas que nunca vivi
apenas n’alma senti
tua voz,
a me abraçar!
Léa Ferro, Ericeira, PT, 02-08-2007, 24:12 hs
7 – Tu:
Tu.
Que dás forma à poesia
corre o barro em tuas mãos
docemente
moldas o vaso
do poema em construção.
Tu.
Que na madrugada talhas
o desenho d'alma
dando forma e emoção
rabisca teus versos
na lágrima da canção.
Tu.
Que dás liberdade às letras
que alimenta a paixão
(alça voo pelos ares)
dedilhas na poesia
a voz da melodia
e, lapidas meu coração!
Léa Ferro, Ericeira, PT, 07-08-2007, 23:11 hs
8 – O Pescador:
O sol, ainda dorme
lá vai ele a navegar
faz café artesanal
e seu sono despertar
é madrugada quando sai
e ouve o oceano chiar
o seu remo é a caneta
e sua poesia o pescar
na canoa que o acolhe
dela, ele faz o seu lar
pede a Iemanjá proteção
e de volta a casa, chegar
quando em fartura, a canoa
estiver a carregar
mais que a glória da pesca
faz o seu coração palpitar
pescador, de vida e prosa
pede pra Mãe abraçar
o sorriso de seus filhos
e pra nunca seu amor, chorar
inda, que o mar o leve
este mesmo, faça retornar
os seus pés na areia morna
o pescador possa fincar
pra’no abraço caloroso
dos amigos, amenizar
a saudade, dos longos dias
que ele passa a pescar
vão-se dias... Vão-se noites...
em que sua terra, é o mar
tem na paisagem, a estrela
lua tímida, a orientar
os seus passos, seus anseios
este pleno desejo de amar
amanhece, um lindo dia
em seu coração a brilhar
anoitece, rezam os filhos
pra sempre o pai voltar
pois quando o mar é revolto
faz o peito, em dor, apertar
e Deus, vem sempre em socorro
pra o coração aliviar
traz o pescador sorridente
inocente a cantarolar
mas o pescador é teimoso
nada o faz aquietar
e o sol, ainda dorme
lá vai ele a navegar.
Léa Ferro, Ericeira – PT, 07-08-2007, 15:47 hs.
[ao meu pai]
9 – Em teus olhos:
Em teus olhos
moram cores
as mesmas cores
do mar
moram luzes
e sabores
nascidas
do verbo amar
moram perfumes
e flores
no jardim
do além-mar
moram forças
e amores
sustentando
o caminhar.
Em teus olhos
moram canções
que a madrugada
faz brilhar
moram selvas
e paixões
na leveza
dos pássaros
do cantarolar
moram frutas
e corações
que no mel
faz desejar
moram versos
e sensações
que tu faz
eternizar.
Em teus olhos
mora o brio
mora o ar
mora o rio
mora o mar
mora a estrela
mora o altar
mora a vida
mora o falar...
minha querida
mulher do mar!
Léa Ferro, Ericeira – PT, 10-08-2007, 19:49 hs
10 – Tu:
Tu.
és o meu poema
derradeiro verso
és o meu tema
no universo
és engrandecer
em meu caminhar
és meu viver
e meu despertar!
Tu.
és o meu futuro
e o meu passado
és a esperança
dos dias por vir
és minha lembrança
és o meu sorrir.
Tu..
és o meu poema
és a minha glória
és amor e lema
em minha história
és o meu botão
da rosa a nascer
és meu coração
no entardecer!
Tu.
és dia frio que aquece
és água que fortalece
a raiz dos meus verbos
na luz que enxergo
no doce caminhar
do teu amar!
Tu.
és vida e ar
és meu respirar!
Léa Ferro, Ericeira, PT, 14-08-2007, 18:32 hs
A luz dos olhos teus.
A luz dos olhos teus
não brilha mais que os meus
quando é despertar
e me beijas singela
és brilhante primavera
a me alimentar!
A voz em grave tom
entontece mais que o som
que faz o sol ao cravar
e deitas toda nua
elegante, como a lua
sorrindo ao me amar!
A luz dos olhos teus
enreda-se nos meus
pra vida, embelezar
o mar e o farol
esquivam-se do sol
só pra te admirar!
As rosas com ciúmes
do teu, louco perfume
a me embriagar
e tens-me, toda tua
na delirante pele crua
no crepúsculo do amar!
Léa Ferro, Ericeira, PT, 10-08-2007, 21:05 hs.
10 – Desenhas:
Desenha em meu peito
Uma vontade louca
De despir-te em beijos
Entorpecer a tua boca
Traçar em teu punho
Uma fornalha de cores
Rabiscar em tua pele
As travessuras de amores
Que os olhos mudos
Anoitecem a gritar
Almejando em madrugada
O silêncio de amar!
Desenhas, em meus laços
Com a voz do despertar
Pôr-do-sol não é mais quente
Que o desejo de amar!
Léa Ferro, Ericeira, PT. 05-08-2007. 15:47 hs.
11 – Astrolábio
Guia-me pelos mares da vida
o teu singelo amor
porque teus olhos
são a Lua na negra noite
a dar vida às estrelas
e a brilhar gentilmente
ao trilhar da caminhada
confortando, as embarcações
e tua boca macia
é o Sol ardente
que ilumina os dias
aquece a alma
e embriaga na emoção.
Guia-me pelos mares da vida
e nas marés a beijar a areia
que morna em ternura
acolhe meus pés
porque teu riso é mar
e o alçar do voo em perfeição
das Gaivotas e Andorinhas
a migrar, a outra estação
e tuas brandas mãos
são duas nuvens fofas
a chover no deserto
de satisfação.
Guia-me pelos mares da vida
porque o teu amor
é meu eterno astrolábio
e a tua lágrima
meu eterno oceano
que se faz vivo
ao longe tempo
em além-mar
do coração!
Léa Ferro. Outubro, 08-2007
12 – Segue o sol:
segue o sol
segue a seco
no solo trepidado
com bolinhas de sabão
da inocência
segue o sol
segue o vento
diante a ti
que faz o inverno
antecipar
segue o sol
por que dias frios
estão a chegar
e hás de abraçar
a natureza
segue o sol
da primavera
e degusta o agora
lá fora
somente a lua
está acesa
segue o sol
segue a seco
que ainda
há tempo!
Léa Ferro. Outubro, 08-2007
13 – Primavera um:
(Para Marlene)
Agora a primavera
segue o sol
sentimentos de Domingo
segue o oceano
no conforto
do amigo, abraço
é o amor mais verdadeiro
a amizade
e as flores que causam
perfume e sossego.
agora a poesia segue,
segue o sol!
Léa Ferro, 00:38, Outubro, 08-2007
14 – Primavera:
Agora a primavera segue o sol
inda que esta, tenha ido embora
quando dói, é certo o Outono
e Inverno vêm fatalmente
dolorido e impregnando de pedras
mas para quem ama, gentilmente
sempre será, uma Primavera
estendendo as brancas mãos
delicadas mãos, que na Rosa
traz a simetria dos meus gestos
e o riso dos dias, dela, a Rosa
aqui, hoje é Primavera macia
a colorir a copa das árvores
e o oceano me abraça ternamente
neste céu, que sabe a anis
e acalenta a todas as estrelas
que fazem morada, na poesia
na melodia, silenciosa e clara
a tecer lenta, caminhada
a procurar, pelos dias meus.
Agora, como outrora
a Primavera segue..
segue o Sol.. E segue
os pássaros em revoada!
Léa Ferro. Outubro, 08-2007
15 – Presença ausente:
Está sempre presente
esta tua ausência
a cada minuto
um constrangimento.
Está quase quente
este teu frio descontente
é um corpo, inerte, fervendo
em outro corpo ardente.
Está perto do longe
a distância vulnerável
que agride e controla
reprime e engana.
Está meio que torto
este certo alinhado
destruído, cocho, arranhado
como um cego, em brado.
Está toda de branco
esta nuvem negra
este olhar arregalado
esta paz, qualificada.
Está verde musgo
este mar de sentença
está sempre ausente
esta tua presença.
Léa Ferro. Outubro, 08-2007
16 – Tempo:
É tão ruim este tempo
este templo, tão profundo
é tão ruim, este olhar
são ruínas, que ruminam
que distorcem a imagem
um templo em murmúrios
que persiste no mais
é tão ruim este sonho
um sonho, não se vai assim
não se desfaz os sentimentos
como se desfaz as malas
é impossível, não doer
é impossível, o acreditar
tento entender o mundo
e esqueço, de mim
é tão confuso este tempo
um tempo que rumina
dentro de mim.
Léa Ferro. Outubro, 08-2007
17 – Perdi-me:
Eu me perdi por ai
numa noite escura, sem luar
enquanto me embriagava
e acendia meu último cigarro
observava a madrugada a doer
e ferir os meus pensamentos
tentava apagar as lembranças
das tuas mãos em minha face
mas, tudo que eu fazia.
me trazia, você!
Eu me perdi por ai
em meio à multidão
perdi também minha fé
perdi o que tinha de amor
e a paz do coração
eu perdi os dias
e ganhei as noites sombrias
com alguma, solidão
eu apaguei os passos
e rasguei os livros velhos
que falavam apenas de poesia
vi o fogo crepitar
e queimar, os poemas meus
eles não valiam de nada mesmo
e só falavam de amor.
Eu me perdi por ai
sem planejar me encontrar
ou te perdoar!
Eu me perdi.
Léa Ferro. Outubro, 08-2007.
18 – Soneto de divina luz:
Sorrisos teus, tu vistosa: - Oh madrugada!
Suaviza, serena tez, a contorcida
engana alguma vez, a dor que o mata
ciúme, pranto e verso, na ferida!
Sofrem, as densas horas, que o mar escapa
umedece o campo verde, em desalento
sangra a lágrima cortante, vil como a faca
precisos laços, que mantém, mortal ao tempo.
Chororos versos, inocência infame a suspirar
enfeitiçam-me, no inferno, em tormento
se me é fado: - Que tu ames! ...eu sou luar.
Se és poema, envolve n'alma, o sofrimento
e vestes-te, de nevoeiro, no algoz amar
a trazer-me, divina luz, morte e lamento.
Léa Ferro. SP, Outubro 21, 2007. 11:04 hs.
19 – Lisboa amada:
Lisboa, mulher ardente
te vestes de fado natural
te invernas de temporal
me vestes de amor latente.
Lisboa, mulher amada
te vestes de poesia
me vestes, de tu'alvorada
na alma que irradia.
Lisboa, de estreitas ruas
te alargas co'a magia
inventas, no poeta a poesia
embriaga-os, de lua.
Lisboa, mar de alma intensa
te vestes no despertar
te despes na noite densa
me despes, ao me olhar.
Lisboa, mulher amada
te vestes de boemia
te entregas a nostalgia
me fazes, em madrugada.
Lisboa, mulher do mar
te despes mulher da rua
te entregas ao meu cantar
e deitas-me, linda e nua.
Lisboa, do cravo e rosa
te vestes de jasmim
deitando-me, toda formosa
com teu aroma, de alecrim.
Lisboa, mulher amada
te despes ao delirar
abraça-me em revoada
e sorri, ao me amar!
Léa Ferro. Outubro 21, 2007. 12:36 hs.
20 – Para Astrolábio:
Deixo a musicalidade de a tua presença corromper o meu silêncio.
Nele, entrego-me, sem reservas ou receios da vida que agora tenho
Caminho lentamente e vejo teus passos saudosos ao mar..
Corre inocente, rumo as salgadas águas que o atlântico traz
Onde almejas um mergulho, um suspiro, um afago..
E teus olhos serenos..
Correm pelo céu a admirar as nuvens claras e macias
Que desenham no céu da tua imaginação: - Alguma poesia..
Caminhas sobre as águas e sentes o mar morno invadir-te
E inundar tua alma, molhar os teus pés, saciar tua sede
Caminho e escrevo um poema na areia da praia
Que a onda beija e leva para o outro lado do mar
Teus olhos faceiros, sorriem e mundo ilumina-se
Traz o aroma das flores que a primavera prepara
Deixo-me sorrir contigo e partilho de um cigarro
Mesmo sabendo que isto, não combina contigo: - Sorrimos!
Enquanto espero a resposta das águas claras e verdejantes
O mar devolve o poema em forma de conchas, brancas, e o mar..
.Já não se agita, apenas se acalma e canta a música dos deuses
Embalando-te nos sons que a natureza traz amena
Tua alma alça voos e teu corpo moreno desenha um bailar
Enquanto deixas tua voz soar misteriosa no infinito
Deixo a musicalidade corromper o meu silêncio!
Léa Ferro. Outubro 27, 2007. 16:27 hs.
21 – Sonhar:
(Pra Marlene)
Eu poderia sonhar
a beleza das flores
e dos mares no dia do sol,
mas em nada seria deixado
o excesso a fim de sonhar,
se em meu coração
o amor não fizesse a morada
e o cravasse profundo
do amor uma esperança
certa não tivesse o portal aberto
e o meu olhar sorrindo
canta, o amor dos olhos
no alvorecer!
Léa Ferro, 1º de Novembro de 2007. 13:41 hs.
22 – As marés:
As marés chegam fortes
são os ventos que as trazem
as marés assobiam nas pedras
bailam na areia, antes, morna
as marés trazem os sonhos
são as flores que as criam
as marés sorriem dengosas
falam de amor e de desafios
as marés dançam ao sol
constroem sua história real
e na caminhada das águas
tantas praias modificam-se
mudam o curso dos rios
trazem à areia, as conchas
brancas, malhadas, coloridas
as pedrinhas bem pequenas
enfeitando a natureza
e embelezando o entardecer.
As marés chegam fortes
na suave e doce maresia
as marés são as estrelas
a reluzir do alto céu...
as marés trazem as ondas
que embalam a vida
e destilam-se de mel.
Léa Ferro. Novembro 16, 2007. 22:46 hs
23 – E o sol:
E o sol acorda os que repousam
traz a passarada em revoada
o canto suave na goiabeira
o balanço das folhas de primavera
e o sol traz, as borboletas
azuis, amarelas, marrons...
pousando feliz nas flores
bailando elegantes na grama
encantando o olhar juvenil
e o sol aponta nas montanhas
na serra do mar verdejante
brilha na copa das árvores
enfeitiça os pequenos passarinhos
Saíra, Bonito, Tié Sangue, Sanhaço,
Bem-te-vi, Tucano, Beija-flor...
fazem algazarra na manhã
que inicia-se com um café forte
um bom dia animado e amigo
e traz alguma paz ao litoral
onde os mares cantam
na praia dos pescadores
e as canoas rincham na água
e o sol desperta mais suave
e o sol desperta as crianças
e o sol desperta a emoção
e o sol traz a alegria
e a promessa de um novo verão!
Léa Ferro. (Primavera a florir)
Novembro 17, 2007. 08:36 hs.
24 – Poematizando:
E os nossos poemas
induzem as flores
quando é madrugada
e todas as cores
brilham por um riso
Teu.
Léa Ferro, Lisboa, PT.
06-08-2007. 22:31 hs.
25 – As manhãs:
As manhãs quebram o silêncio
das noites suaves de primavera
os pássaros cantam, cortam o ar
as crianças brincam, pelo lar
o vento leste ameno refresca
trazendo a canção do mar
as manhãs saltam da madrugada
para o sol riscar o céu azul
e iluminar a caminhada fiel
o sol baila ao lado das estrelas
dando vida as begônias amarelas
cativando as margaridas tímidas
as manhãs surgem em efeito
ao véu da noite a imacular
o sono dos anjos peraltas
que enriquecem a imensidão
quando o sol e a luz do céu
as manhãs fortalecem aurora
dão sabor a água do mar
bronzeiam a pele sensível
a caminhar pelas ondas macias
as manhãs fecham o ciclo
e iniciam... Terna fecundação.
Léa Ferro.
Novembro 18, 2007. 09:48 hs.
26 – Águas:
Numa preguiça silenciosa
o corpo estica-se na cama
como um felino após o sono
lança-se o braço, num abraço
para receber os cumprimentos
do dia que está a nascer.
Numa preguiça silenciosa
o sol desponta sorrindo
no pico da serra do mar
muralha verdejante e fiel
a proteger as praias, o vale
a proteger o riso, a fé.
Numa preguiça silenciosa
as borboletas iniciam o bailar
no quintal florido, colorido
e o bem-te-vi salta faceiro
quebrando o dito silêncio
anunciando a doce chegada
das águas de primavera
que preparam o verão.
O silêncio quebra-se nas matas
traz a canção dos passarinhos
o burburinho da cachoeira
o som da chuva passageira
o risinho do bebe acordando
e a melodia suave, em bom dia
dos olhos que espreitam a janela
e sentem as gotas, do céu, cair
aspiram o cheiro de terra molhada
e numa divertida gargalhada
abraçam, no abraço, gentil
o corpo felino a despertar.
O silêncio quebra-se nas matas
numa preguiça deliciosa
e os ruídos do dia anunciam
quão suave é o momento
da voz que traz em fortuna
o calmo, ás aguas, o sentimento
a paz, o brilho, o sol e a ternura!
Léa Ferro.
Novembro 19, 2007. 09:50 hs.
27 – Gota D'água:
Por campo aberto sigo a estrada
que o sol trilha insistente nas manhãs
os dias não são iguais, não se repetem
vejo meus inimigos a caminhar
e seus sorrisos são fartos nos lábios
os olhos desdenham com pressa
não houve um castigo aos errantes
eles nem dão a mão a palmatória
e não tiram o chapéu ao entrar
eles multiplicam as minhas palavras
cuja calma, é apreciada pelos ventos
olho para trás e os vejo a me seguir
já não os temo, mas os desprezo
por vezes, eu os odeio, sem piedade
e não importo-me mais com os pecados
porque ainda sei sobrevoar as águas
e mesmo amordaçado, brado por ai
não há correntes em meus punhos..
..que façam-me desistir nesta estrada
mas só eu sei o que me custa, me mata
deixá-los trilhar a mesma caminhada
que meus pés descalços trilham
e sangram, e gemem, e doem
mas se olho adiante com firmeza
vejo que meus passos estão à frente
e meus inimigos apenas tentam..
..em vão, alcançar-me!
Léa Ferro.
Novembro 30, 2007. 11:39 hs.
28 – A partilhar:
Hão de as marés trazerem os sóis
que inebriam as flores em primavera
e destilam d'alma as sensações
tocar-se-ão as pétalas das rosas
entrelaçadas pelos ventos amenos
e as gotas d'água tocarão tua face
que serena, há de sorrir no crepúsculo
por já não mais temer a escuridão.
Darás mais alguns passos firmes
e aportarás na morada dos anjos
encontrar-se-ão os olhos tímidos
já sem reservas, sem luxúria
nem dependentes, de tal razão.
Estarão os sinos a tocar baixinho
a anunciar que um riso teu, nasceu
nos dias de bradar aos céus, extremo
a lua vai brilhar, contigo, a partilhar
que estrelas também nascem
de uma necessária explosão.
E aportarás, na casa dos anjos azuis
como o céu das primaveras gentis
beberá vinho, no cálice da vida
e tu, alma minha, há de sentir o frescor
que a vida traz, após a imensidão, da dor
da vida, que já não persiste, nem existe
mas que corre co'a esperança na mão.
E aportarás, tu, alma minha, nas nuvens
onde o repouso há de libertar-te!
Léa Ferro.
Novembro 30, 2007. 12:32 hs
29 – Rainha do mar:
Ela tem o dom de acalmar
Ela vem à noite abraçar
Ela faz canção em alto mar
Ela brilha mais que o luar.
Rainha Iemanjá.
Que nas águas serenas caminhas
com as mãos cheias de estrelas
e nas noites quentes embalas
o amor em completude ao céu
sorris faceira quando é madrugada
a preparar as novas manhãs.
Rainha do mar..
Mãe das borboletas, das aves
dos pescadores, das flores
dos poetas e dos amores..
Rainha do mar..
mulher das águas salgadas
que perfuma a alma
que se enche de lua
que se faz emoção!
Léa Ferro.
Novembro 30, 2007. 20:17 hs.
30 – Olhos tristes:
(Para a Menina das Chuvas de Flores)
Estes olhos tristonhos.
Em preto e branco
parecem gritar
o que o coração
tenta acalmar
estes olhos tão belos
tão puros e serenos
fazem sorrir
quando o dia
amanhece.
E o beijo se cala no ar!
Léa Ferro. 01-12-2007. 01:22 hs..
31 – O azul das palavras:
O azul das palavras
às vezes se transforma
numa gota de orvalho
numa flor que desabrocha
num luar entontecido
numa tarde a beira mar
tilintando uma canção.
o azul das palavras
às vezes fica clarinho
como céu de janeiro
como cachoeira
de água tranquila
e doce, e serena, e feliz,
de emoção.
o azul das palavras
vem na manhã
deixar um beijo
em cumprimento ao sol
que atravessa as nuvens
e aquece o coração.
o azul das palavras
traz a paz aos dias lentos
que se enchem de emoção!
O azul das palavras
mora num olhar
numa estrela
num luar
e na caminhada
da paixão!
Léa Ferro.
Dezembro 1º, 2007. 10:10 hs.
32 – O mar serenou:
o mar serenou
tendo na paz,
o abraço dela
o mar serenou
e iluminou,
o sorriso dela
o mar serenou,
e ela semeou o bem
o céu clareou
e a lua brilhou
trazendo o meu bem
o mar serenou
e ela sambou
tão bela
o mar serenou
quando ela acariciou
a rosa singela
o mar serenou
calminho ficou
trazendo a canção
do mar que ralhou
e acomodou
o minha emoção
o mar serenou
quando ela caminhou
com estrelas na mão
o mar serenou
e a vida brotou
cheia de paixão
o mar serenou
e Iemanjá abraçou
o meu coração!
Léa Ferro.
Dezembro 02, 2007. 19:26 hs
33 – Marinho:
Eu me vejo. Revejo.
e ouço bem baixinho
o gemido dos teus beijos
a me sorrir de mansinho.
Sinto a pele, desejo.
o teu olhar bem calminho
me embala, o molejo
do teu abraço quentinho.
Eu me vejo, revejo.
teus lábios, tão pertinho
se suspiram, te beijo!
Num tom de azul marinho.
Sinto a pele, desejo.
o mar a me fazer carinho
na doçura, cortejo
o teu olhar, tão clarinho.
Léa Ferro.
Dezembro 03, 2007. 09:57 hs.
34 – Melancolia:
(Para Glorinha Azevedo)
Melancólico olhar
dos lábios tristonhos
e a face a meditar
os mais íntimos sonhos..
desgarrados cachinhos morenos
nas espalmadas mãos
derramam-se serenos
no saltar da ilusão..
é um rostinho que chora
e que pede um carinho
como bebe que implora
o abraço quentinho..
o olhar apertado
e a boca com ciúme
por ter se desfolhado
nas pétalas do perfume..
não precisa de poesia
este terno reflexo d'alma
por ser a própria melancolia
disfarçada em calma..
melancólico olhar
que ameaça um sorriso
e o tempo faz acreditar
que se pode perder o juízo!
Léa Ferro. Dezembro 03, 2007. 18:24 hs
35 – O devorador de palavras:
Todo mundo procura um jeito de se expressar.
Às vezes numa alegria,
às vezes é um pedido de socorro,
outras vezes num silêncio obscuro,
num grito oco que ruge no peito,
...e nem sempre percebemos.
São pessoas que partilham nossos dias
se tornam amigas, companheiras
às vezes, ultrapassam todas as barreiras!
Surpreendem-nos, nos odeiam, nos amam, nos invejam, nos desejam.
Invadem os nossos olhos assustados
com suas loucas e densas palavras
e acabam por habitar nosso coração petrificado
transcendem a alma. Os pés, as mãos!
Leio-as, as palavras, todas elas
como se eu pudesse entendê-las, senti-las
como se eu pudesse ouvir os grunhidos da alma
e devoro as letras que constroem a imaginação!
Em minha latente fome, observo o que dizem
o que escrevem, rabiscam, desenham, cantam, gritam,
e devoro as palavras sem pressa, na noite fria e escura!
Léa Ferro. Dezembro 04, 2007. 23:19 hs
36 – Rock 'n'Roll
Eu queria conhecer
o Inventário
deste tal de Rock ‘n’ Roll
cheio de manhas
com estas manias estranhas
de vinho e uma guitarra
cheia de artimanhas.
com os dedos cheios de som
e mente cheia das letras
loucas e imperfeitas
com as vestes de couro
da voz gritante
da rouca voz.
no palco a poesia
grita bem alto
a melodia
não à noite, mas de dia
geme a guitarra
os dedos gemem
geme a voz
e a alma geme
o Rock 'n'Roll.
Léa Ferro. Dezembro 07, 2007. 12:47 hs
37 – De papo com a Lua:
Óh moça branca, pálida
porque me olhas assim?
Com este sorriso divertido
como se ouvisse e entendesse
as minhas palavras vazias de amor
porque me olhas?
Como quem tenta responder
e criar sonhos ousados
se mortal, te olho de canto
de olhos apertados e sonolentos
e tu apenas balanças a cabeça
guardas as tuas palavras
no meu silêncio incolor
moça pálida das ilusões
te peço: - não me olhes assim por favor!
Léa Ferro. Dezembro 07, 2007. 18:39
38 – Pedido a Lua:
Quando me olhares outra vez
tire as mãos do bolso
engavete os teus pensamentos
e apenas abrace-me
não é preciso sorrir
nem falar dos dias teus
sei, que não percebes,
mas o teu olhar tímido
me sussurra palavras
e as letras esvoaçantes
constroem os poemas
que ainda não fizestes.
Quando me olhares outra vez
joga fora os medos tolos
e não me olhes como quem te ama
mas como mortal abraço
que deseja apenas compartilhar
o pouco que me resta.
.no muito que tu tens!
Léa Ferro. Dezembro 08, 2007.
39 – Um tom de luar:
Teus olhos desenham em minha pele
Um poema
Rabiscas a poeira dos teus olhos
E a sacodes aos ventos
Com mãos oleiras moldas um verso
Em mim
E aguças a minha fome de palavras
Ergues um cálice de vinho tinto
Que não sacia
Mas explora a minha sede
Com a língua altiva e voraz
Sorris...
E meus olhos se perdem neste tom de luar
Onde o breu esquiva-se e exalta-se
Pela madrugada
E tuas mãos ligeiras contornam meu rosto
Invadem o meu sossego
E enlouquecem a minha paz de amor!
Léa Ferro. Dezembro 13, 2007. 10:36 hs
40 – Noite:
O relógio faz tic-tac, tic-tac
Às vezes, parece fazer tac-tic
Quando eu conto atravessado
Por conta de tanto vinho
...Ele faz tic-tac...
Mais de mansinho.
O relógio faz tic-tac
E eu canto um tac-tic
De saco cheio do cuco
Jogo o copo bem no meio
E desperdiço meu vinho.
Melhor...
...É nem saber das horas!
Léa Ferro. Dezembro 13, 2007. 15:45
41 – Livreto:
Em mãos
Folheio um livreto
São só dez páginas
Em branco e preto.
É um retrato falante
Que me apresentou o poeta
Fala do dia comum
Deste moderno poeta.
É um antigo livreto
Do tempo do proibido
Das coisas simples
Do bem vivido.
Não tem rima nem prosa
Escrito quanto eu nascia
Começa quando eu gerada
Termina quando eu já ria.
Vejo a data no poema
E sinto que velha estou
Não pela folha amarelada
Mas por tudo que passou.
O poeta nem sonhava
Que eu recém nascia
Enquanto ele desenhava
Esta bela poesia.
Em mãos...
Folheio um livreto
Saudosa da minha infância
Doce infância em branco e preto!
Léa Ferro. Dezembro 13, 2007. 19:18
42 – Ilusão:
se o sol irradia
calma-mente
mente
a calma
e transmuta
a poesia.
Léa Ferro. Dezembro 13, 2007
43 – Os teus olhos:
Os teus olhos
são duas fagulhas
com essência
da alma contorcida
os teus olhos
nascem ao meio dia
de um sol ponteiro
que me faz
em melodia!
Léa Ferro. (heterônimo: Hera Ravenna) 17-12-07
44 – Soneto de Formoso Tejo triste:
Formoso Tejo triste que me vês
Sorri de mãos estendidas descontentes
Se n’alma dos teus olhos não me crês
Tão pouco me serás belo e contente.
Mas se de olhos castanhos tu me acalmas
E a dor ferida em morte tu me sentes
Serás n’outra partida em glória a calma
Fervor de uma fagulha sorridente.
Formoso Tejo meu que esmaga as horas
Tu és divina cor no meu lamento
Se olhas nos meus olhos e não imploras
Que a dor se esquive em verso ao sofrimento
Tão pouco o pranto em brado do agora
Trará aos rudes lábios, contentamento.
Léa Ferro. Dezembro 24, 2007. 10:34
45 – Soneto em contrapartida: Cais de Sodré.
Nas águas cristalinas, se apossa o frio
E Traz ventos cortantes, aos lábios meus
O poncho não aquece, a alma em rio
Do choro contra a partida, aos olhos teus.
Se clamo em silêncio, meu infortúnio e dor
Não temo nem glorifico, ao grande Deus
Por ter levado ao cais, tão belo amor
E os dias sem despedida, que eram meus.
Nas águas cristalinas, o sol se esquiva
Sodré me arde agora, louco em saudade
Dos beijos de uma senhora, musa e diva
Que o adeus rogou em prece sem piedade
Outrora me foi amante, ninfa cativa
E agora me deixa em dor, só a metade!
Léa Ferro.
Dezembro 24, 2007. 11:00 hs.
46 – Soneto de Lisboa antes viva:
Outrora, viveu Lisboa em mar remanso
Dos passos de lindos olhos, nevada alvura
Viveu, porque contente era descanso
Repouso, nas tardes frias em formosura.
Deitava nua e sorrindo, em meu abraço
Quando a vi, fiz logo voto de querê-la
Pra em desengano sofrer as horas, sem o abraço
Ela é marfim, mesmo aos pedaços, quero tê-la.
Outrora, viveu Lisboa, mulher de riso farto
De noite, em singeleza, vinha em loucura
Ardente, amar-me às escuras em meu quarto
Como estrela peregrina, de infinitas juras
Com luz de alma cadente, causando-me infarto
Pr’agora, a morte em riste, ser desventura.
Léa Ferro. Dezembro 24, 2007. 12:23 hs.
(e a morte faz doer, numa manhã de natal)
47 – Soneto de menino Natal:
Do menino doce e ameno a manjedoura
Nasceram borboletas, cravo e jasmim
Brilhou do céu uma estrela que nos doura
Enfeitiçando de prateadas pétalas o jardim.
Aos homens trouxe a clava dos campos belos
Às mulheres trouxe o manto da esperança
Para brindarem em ternura amor singelo
E de fortuna ver sorrir, cada criança.
Do sol tem o calor no abraço que alimenta
Da lua tem a luz que voa, como um condor
Do mar tem o aconchego etéreo que sustenta
E da brisa a conformidade em esplendor.
Nasceram rosas, pedras, folhas, água e marfim
Deste menino, que é poeta, é sorriso, eterno amor.
Léa Ferro. Dezembro 24, 2007. 17:12 h
48 – Por teus olhos:
Meus cabelos suados
Os teus dedos em meus cabelos
Que se enroscam e brincam matreiros.
A minha pele ardente
A tua pele úmida
Se misturando à minha lentamente.
Os teus olhos acesos
Os meus olhos embriagados
A dividir, somar, totalizar.
A tua voz sussurrante
Na minha voz apressada
A falar, do que nos consome.
O amor que ancora em nosso mar
As loucuras que nos acalmam
E nos causam, tamanha fome.
Léa Ferro.
Fevereiro 10, 2008. 11:01
49 – Solidão:
(Para Astrolábio)
A minha solidão é literária
Só existe em minha dor
Em meus olhos miúdos
Em minha alma abandonada.
A minha solidão é ilusória
Ela não existe! Não.
Porque na verdade
Tu estiveste comigo o tempo todo!
Léa Ferro.
18 de Fevereiro de 2008.
50 – Amigo:
(Para Cronópia Glorinha)
- Amigo é casa?
Amigo é música
É aconchego
Amigo é lar.
- Amigo é casa?
Amigo é ostra
Pérola é amizade
Amigo é mar.
- Amigo é casa?
Amigo é sol
Terra molhada
Amigo é ar.
Léa Ferro.
19 de Fevereiro de 2008