Ricardo Miro (1883 - 1937, jornalista e diplomata, panamenho. Como terá sido nos paises anglosaxônicos? Uma pesquisa a respeito seria interessante. Nossa diplomacia nos brinda com excelentes homens de letras; nosso setor público nos abastece de gênios da literatura (Machado de Assis, Carlos Drumond de Andrade). E, nesta luta cruel, pela acumulação de conhecimento com fins práticos o que é que este pessoal fez? Quando foram "bolsistas de luxo"nossos cientistas? Para nós não seria melhor estarmos adiantado em informática do que na invenção joyceana de palavras do Grande Sertão Veredas? Ah dúvidas cruéis que me assaltam nestes momentos de amarga solidão...

Observação: compare a pontuação com  (Martin Fierro) e tire suas próprias conclusões. Um  canta a alegria de viver e sentir; outro, balbuciante, rebusca-se em palavras. Um é um cantar campeiro; outro refina o sentimento numa reflexão de sofrimento parnasiano. Um canta a vida. Outro canta a mesma vida num contexto castrado, o contexto parnasiano.

Tradução livre para o português de Romeu Corseni Fagundes: 

                    AMOR?

   Uma vaga inquietude; um misterioso

temor; como um feliz pressentimento;

um íntimo e recôndito tormento;

uma pena que acaba em alvoroço. 

   O sufocante nó de um soluço

perene na garganta; o sentimento

de uma dor que se acerca;o pensamento

cheio de luz, de júbilo, de gozo.

   Uma contradição profunda e escura

que me enche a vida de amargura,

que mata toda a luz e toda a idéia; 

    Que turba toda a paz, toda a alegria;

mas, Senhor, que conheces minha agonia:

se todo isto é amor, bendito seja!

Ricardo Miró
Enviado por Romeufag em 26/10/2013
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