Ele não tinha a pele verde ...

Ele não tinha a pele verde das colinas da Primavera.

Nem sequer dos seus olhos

escorriam azuladas águas transparentes.

Muito menos a sua boca

tinha o viço dos morangos pontiagudos.

Há muito que os cabelos haviam fugido, fio a fio,

tal luz de mortiço pavio, nas noites de mil cansaços ...

Não tinha de igual modo ombros largos de pórtico,

nem o esguio porte de um marítimo guindaste...

A fuligem havia trazido ao corpo a cor pardacenta

de um colheita de milho póstuma após derribadas chuvas

e nas suas mãos calejadas as unhas apresentavam

já a cor das passas d'uvas ...

De idade acometida era uma frágil barcaça ...

em busca de um pontão cravado no alto mar.

Trazia no fundo do casco, num recôndito espaço,

um tesouro inigualável - borboletas capsuladas,

ainda por desabrochar - no âmago do seu estômago.

(Bichinhos da seda, só para lhe ofertar).

E a força nas palavras, nos seus versos confessos

de menino travesso, de marinheiro ainda virgem

das mil voltas de (a)mar ... Tinha no desembaraço

do discurso a força indómita de jovem e saber aprendido

de um boiar à tona d'água. De um corpo fustigado

pelas trovoadas esparsas de um revolto mar ...

E um beijo largo e brando, e um beijo doce e manso

e um desejo de dar colo e de a mimar ...

Ela? De ser cais e de o amar!

A ele, o Mar!!!!

Mel de Carvalho
Enviado por Mel de Carvalho em 18/04/2007
Código do texto: T454016
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