Súditos do tempo
Somos nós, os súditos do tempo,
a espera de pão, água e amor,
esperando que a dor não nos alcance.
E como súditos que somos, sonhamos,
na brevidade dos nossos anseios,
eternidade nos recreios da vida...
...e os passos do caminho
foram generosos,
na permissão de um reencontro,
desencontro na noite escura.
Devagar, um olhar a vagar
procura a cura, o encanto dos contos,
pelos cantos, pelos pontos.
Segue, prossegue as buscas
quando surpreso se rende,
se estarrece, se prende
ao brônzeo tesouro avistado.
Estremece a certeza,
vai correnteza e rio abaixo
rumo à Babel dos desejos,
aos beijos imaginados com ardor.
E qual furor irrompe o peito,
compele,faz o ar rarefeito,
que aos berros contra a inércia
arremessa me à controvérsia
do não querer te por inteiro.
Tenho os pés sobre o braseiro
de calores, mormaços bem-vidos,
infindos espaços na alma
e a calma do espalmar de mãos.
Por esses chãos onde pisamos,
deixamos pegadas, suores, sonhos.
Quão melhores fizeram-se os dias,
remontando alegrias ao lembrar-te.
Tão melhores fizeram-se as noites
de insônia cálida ao sussurrar-te.
Levo comigo, tua sonância de voz,
no suplício atroz da ausência,
da abstinência dos teus olhos.
Estou a vontade em teu sorriso
e disso, preciso mais que tudo,
pois não há dor no mundo que suplante
a causticante idéia da distância.
Sei que estou flutuante,
adiante e além de mim
Cruzando o vasto espaço
almejando o quanto antes, seu abraço,
por toda a caminhada, por toda a vida,
mas...
Somos nós, os súditos do tempo,
a espera de pão, água e amor,
esperando que a dor não nos alcance.
E como súditos que somos, sonhamos,
na brevidade dos nossos anseios,
eternidade nos recreios da vida...