A vida num pomar
Sabe, eu devo ser a casca de um fruto frondoso
Sou eu quem protejo a potência maior de um doce prazer
Sou grosso, sou áspero para defender
Quando a água deixar de cair me enrijeço,
Deus me faz chorar, adormeço, fico amargo, adoeço
Se uma praga chegar, vou gritar, explodir, deixar intacto o que possuir
Se, às vezes, pareço frágil demais para tamanha doçura,
Minha primeira camada é só candura, prevenção de um órgão fugaz
Entendam-me sou voraz, e ver florescer é o que me apraz
Endureço novamente, protegendo minhas sementes, meu melhor
Às vezes me desprezam, jogam fora, omitem meu sentimento materno
Acho que devo parar de abraçar tudo aquilo que amo,
Desse jeito serei a casca de um universo em formato de noz
De tão seca casca que abrigará nobres grãos, de esperança, fraca voz
Por vezes tentam me cortar, defendo, morder, fico amargo
E em meu canto protejo, só, calado
Toda a beleza do mundo abri mão, sou feio, enrugado, velho, duro
E por vocês me desfaço, quando não aguentar
Se choro é porque dói, se apodreço é porque corrói
Bravamente e inutilmente tento me segurar aos galhos
Mas termino em frangalhos, despedaçado, aberto, corroído
Seja por uma brisa de memórias, por discórdias, por escórias
Ao mundo libertarei uma certeza, fruto doce e com beleza
Darei com dor, dilacerado, órgão mutilado, ainda fisgado
Deixarei no mundo, sementes de esperança, frutos de amor
De tão casca grossa que sou
Gabriel Amorim 10/10/2013 http://devaneiospalavras.blogspot.com.br/