Isentos os nossos corpos se deram
Isentei-me para dentro de um tempo que é só nosso
e lá encontrei, meu amor, aconchegado,
o meu delicado peito, no colo sinuoso do teu regaço.
Num longo balancear de vagas de largo mar ...
Isentas foram de nós as palavras,
que subiram elevadas em pernas arvoradas de cometas...
Enfeitaram o azul do céu, em farrapos esfuziantes
de doce algodão. Desceram de novo ao chão, sobre os
nossos cabelos ... na cor argentina, na cintilação d’adrenalina ...
Esvoaçavam sobre as praias em que apeaste as minhas saias.
Isentos os nossos corpos se deram então,
na busca dos caminhos naturais,
tais águas que sempre encontram, os seus, primordiais.
E do templo sagrado do meu corpo, nesse sacro momento,
todo o anterior receio se ausentou.
Os meus seios eram agora colunas gregas, altaneiras,
encimadas por claridades luminescentes, fosforescentes ...
De bailados d’ unicórnios alados e suas crinas.
E nas minhas pupilas meninas, do verde dos meus olhos,
igualmente, os terrores se fizeram ausentes.
Isentaram-se os rumores mais agrestes dos passados
quando os meus e os teus passos se vislumbraram
colados. E nos teus flancos desejados eu antevi anseio
crescente. Do meu corpo, aprisionado no sonho comum da gente.
Isentaram-se findos, os cantares sinistros dos mochos
nas tardes finais e de novo a Primavera se esboçou-se claridade
reflorescida na greda alaranjada dos beirais ...
Isentaram-se de nós quaisquer segredos ...
no momento adocicado em que em exaltação festiva
renasci mulher, adormecida a teu lado!
Isentaram-se de igual modo, a timidez e o embaraço,
no acasalar corpo e alma e, numa quietude serena,
rejuvenescer de forma ora exaltada ora amena,
por dentro do fulgor da mais tórrida paixão.
Num tempo apressado
em que apenas a essência da vida nos faz correr...