Registros físicos de saudade.
Toca o meu seio, diga a verdade:
tu não sentes a mesma saudade
que, aqui dentro, como nunca arde?
Como posso crer que "é muito tarde",
se há a luz e a cor na tua lembrança,
se me vejo tão mulher e tão criança
se me encontro com a tua aparição?
Olha meus olhos, e veja o coração
que se denuncia na pupila dilatada:
Como esconder a história apaixonada
que norteou grande parte do viver
tão meu; como hei de te esquecer,
se há tanto eu ando me empenhando,
e tua imagem vai me perturbando,
seduzindo, na hora mais desavisada.
É quando a alma se vai, apaixonada,
se perdendo na saudade ressurgida.
Tira a mão de mim, pulsação sentida
já está gravada na sua memória.
Não, não quero regredir a história;
não, não posso reinventar situação.
Só quero viver, mesmo na solidão,
a liberdade de sentir, sem temer;
o amor tão vivo, evitando morrer;
o brilho platônico, tão puro e real;
o anseio calado, intenso e animal...
Vá, agora, vistes já o suficiente.
Fuja agora, enquanto a mente
registra o teu repentino escapar...
Eu sei, um dia irás retornar.
Para uma noite de curtição.
Para curares a tua solidão.
Por uma crise de saudade.
Para tentar uma amizade.
E, eu aqui, deixo o peito pulsar
mais forte ao te ver voltar...