Eu pintor de mim
Estranho, eu estava agora a pintar meu quadro
Nele, podiam-se perceber pinceladas grosseiras
Traços pretos de não enxergar, via-se também cordilheiras
Montanhas indefinidas que a altura poderia assustar
Não havia muita luz, o claro-escuro levava a um contraste
E num possível disparate, ainda podia se ver uma correnteza
A esperança não era mais verde,
Mas sim de um marrom tão singelo
Que a lama foi capaz de ser mais vívida
Não podia se ver animais, a fauna estava extinta,
Quem sabe nessa selva de pedra,
O que menos brilhava fosse os olhos do pintor
Quem de muita cautela usasse podia ver umas nuances,
Do Sol que de alaranjado fora pintado
Nesse céu que também era estrelado,
Marcando uma por uma as constelações
Vi o Cavalo com facilidade, mas me perdi em Sagitário
Com o horóscopo vi uma a uma, me faltava o mês de Junho
Olhei para os gêmeos, nada encontrei
Muita desconfiança, solidão, solidez,
No quadro pontilhista que pintei
Aquilo era obra de muito esmero, defeitos, quase zero
Faltava uma simples constelação
Onde estavam os dois irmãos?
Que um dia pelos brilhos se formaram, pelo amor definharam
Eque juntos congelaram, Castor e Pólux
Fora da tela havia algo gélido que por pouco se movia
Num descompasso da marcha fúnebre, a tela rubra remexia
As linhas vermelhas e azuis ditavam o ritmo do bater das válvulas
Colocando o ouvido na tela ainda ouviam-se chiados
De um amor perdido e rebuscado,
Tantas vezes pintado que fora idealizado
Do lado de fora dele, na imensidão de uma íris azul,
Vi cabelos entrelaçados, sorrisos desconjuntados,
Vi meu corpo, o teu, todos nus
Ali estava o meu Éden, fora de minha tela célebre
Era que acontecia o maior espetáculo
Com linhas, devaneios e palavras não consegui achar tal receptáculo
Uma mulher a altura de meus quadros
Um amor maior que esse, de fato, está longe de acontecer
Hoje, Castor, procuro esmaecer, os fortes tons de cinza que na tela lisa
Penetraram a matiz de meu viver
Levo a esperança vivida, a tela sofrida, na bagagem da vida
Sou pintor, sou artista, um dia ludibriado ilusionista
Que como Da Vinci, ainda espera sua obra-prima, Mona Lisa
Gabriel Amorim 27/07/2013 http://devaneiospalavras.blogspot.com.br/