CANÇÃO DO MÓRBIDO ABANDONO

Eu pressentia que, numa hora insana

Você iria roubar a minha luz

Por isso, precavida, me propus

A guardar uma vela por semana

Pra que, quando chegasse a escuridão

Pudesse iluminar minha tristeza

Ornei de castiçais a minha mesa

Já antevendo a negra solidão

Uns tempos bem depressa se passaram

E numa ingrata noite sem luar

Veio apagar-me a luz a tua mão

As velas que na vida se ajuntaram

Só nesta hora fui justificar

Eram pra iluminar o meu caixão

Do livro em preparo: Cântico das Vozes Noturnas