Bocas e coxas
O amante diante da falta total de esperança em resgatar o ser amado se entrega a fantasia de encontrar sua amante, em múltiplos objetos. Busca infantilmente, em suas fantasias auto-eróticas, um simulacro e uma representificação do seio perdido. Nesse percurso perde ainda mais o contato com o objeto desejado, uma vez que as novas experiências, longe de reproduzir as sensações almejadas, em seu contraste, descobrem seu devaneio e sua desertificação, revelando ainda mais sua aflição em saber que o objeto perdido não é mais ele.
Bocas e Coxas
São tantas coxas
São tantas bocas
Que eu não lembro mais de você
É tanta falta
É tanto frio
Que eu não me lembro mais de você, meu amor
Nesse vazio
Nessas bocas, nessas coxas
Mais vazio de você
São tantas coxas, tantas bocas
Mais vazio, mais esvazio
E que inveja de você
Da sua boca, da sua vida
Da sua alma que era minha
E minha alma que são só bocas e coxas
Não sou mais você, meu amor.
Não sou ninguém.