A DOM QUIXOTE
NA MANHÃ DE 08 DE SETEMBRO DE 2013
Por que Dom Quixote
por que tanta luta
por que tanta guerra surda
com a tua pobre, triste Dulcineia?
Dulcineia, tua estrela
esta que volta e meia
se vê transformada em poeira
não poeira de estrelas
crua poeira de estrada
dessas que viram lama
quando cai chuva farta.
Por que, Dom Quixote
por que?
Por que não vês, simplesmente,
minha triste face humana?
Tua cegueira
para a minha tão triste face humana
vem abreviando
há séculos sem pausa
meus dias sobre esta Terra.
Eu te vejo como és, Dom Quixote
e assim te tenho amado
com tua luz e tua sombra
com todos os teus moinhos
ah, alguns tão verdadeiros!
Com muita luta, é claro,
também o meu amor
que não é fácil
amar uma estrela
feita de paradoxos, como tu,
paradoxos compondo
a tua face humana
paradoxos que, por amor,
passaram a compor, também,
a minha triste face humana, senhor.
Senhor meu
nunca acabará em ti
tal trajetória
de Dor e Dúvida
que nos contaminam de morte os dias
os anos, as vidas?
Nunca nos revelaremos
face a face
olhos nos olhos
a nossa verdade tremenda
essa verdade
que nos tem abalado, sempre, os edifícios de existir
que nos tem fundado, sempre, os alicerces de morrer?
Seja como for, permite dizer-te
senhor meu:
Na hora de fechar meus olhos e meu corpo
em definitivo
para as sombras e as luzes desta Terra
será teu nome
homem do meu amor
Dom Quixote meu
minha estrela funda
a mais alta
estrela
nos meus lábios
o derradeiro nome
teu nome de carne
o nome de teu homem
o derradeiro nome
que habitará minha boca.
Depois, eu voarei.
Voarei, Dom Quixote.
Eu voarei
mas, não agora,
não ainda agora
Amigo meu.
Poema escrito, de primeira, na manhã de 08 de setembro de 2013.