Metade

Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio

Que a morte de tudo em que acredito não me tape os ouvidos e a boca

Porque metade de mim é o que eu grito, mas a outra metade é silêncio.

Que a música que ouço ao longe seja linda ainda que tristeza

Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada, mesmo que distante

Porque metade de mim é partida, mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece

e nem repetidas com fervor, apenas respeitadas

Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos

Porque metade de mim é o que ouço, mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora se transforme

na calma e na paz que eu mereço

Que essa tensão que me corrói por dentro seja um dia recompensada

Porque metade de mim é o que eu penso, mas a outra metade é um

vulcão.

Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo

se torne ao menos suportável.

Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso

Que eu me lembro ter dado na infância

Por que metade de mim é a lembrança do que fui

A outra metade eu não sei.

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria

Pra me fazer aquietar o espírito

E que o teu silêncio me fale cada vez mais

Porque metade de mim é abrigo. mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta, mesmo que ela não saiba

E que ninguém a tente complicar, porque é preciso simplicidade

pra fazê-la florescer

Porque metade de mim é platéia, e a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada porque metade de mim é amor

E a outra metade... também.

Oswaldo Montenegro
Enviado por Carlos D Martins em 06/09/2013
Código do texto: T4469965
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