Em sintonia (uma ode ao reencontro)
Ela:
- Eu preciso e você tem:
Quando quis, você me deu.
Hoje nega e sabe bem
Que o direito é todo meu.
Sinto falta e mais ninguém
Merece mais do que eu.
Eu preciso... você tem...
Você tem... mas não é seu...
É meu... e se der pra alguém...
Pode dar... mas saiba bem:
Fica sem... e me perdeu.
Ele:
- Você precisa, mas você já tem.
E tem de fato muito mais que eu:
Eu lhe daria, mas você é quem
Possui de sobra o que jamais me deu.
Enquanto guarda, alega que não tem;
Simula falta e sabe que escondeu.
Diz que precisa, mas você já tem.
E tem de fato muito mais que eu.
Ela:
- Nunca tive o quanto diz.
Se tivesse, pediria?
O que tenho nunca quis;
Quero o que já tive um dia.
O que foi bom quero bis.
Mais que isso: parceria...
Pois lar não é moradia,
Nem parceira é meretriz...
O que quero? Este é o xis,
Pois não é mercadoria;
Não tem molde nem matriz,
Não se estoca todo dia,
Nem cresce nem dá raiz...
Ele:
- Se não zelar, esvazia;
Definha, se lhe maldiz;
Os ciúmes imbecis
Dão-lhe uma aura sombria;
Vive de olhares gentis,
De doçura, cortesia
E repleto de harmonia,
Num lar completo e feliz.
Ela:
- Eu não te peço um marido!
Ele:
- Não tenho um pra te dar...
Ela:
- Sabe o que eu quero, querido?
Ele:
- Um ouvido pra te escutar?
Ela:
- Nem imagina o que eu peço?
Nem de longe desconfia?
Ele:
- Um homem com mais sucesso,
Mais crédito e fidalguia?
Ela:
-O que peço, nesse instante,
É tudo o que tive um dia:
Onde está aquele amante
Que me encheu de fantasia,
Que me deu versos galantes
E juras de parceria?
Ele:
-Tá aqui... ‘ce tá’ diante
Do autor das velhas poesias.
Como um casulo mutante,
O tempo impõe tais magias.
É quando a larva de antes,
Que todo o tempo comia,
Recolhe-se e, nesse instante,
Parece um’alma vazia.
Eis-me aqui... mais adiante
Talvez veja o que não via:
A crisálida irritante
Dentro de si escondia
A borboleta elegante
Que no inverno sufocante
de teu calor padecia.
Ela:
- Estou pronta pro depois:
Liberte-se das amarras.
Outras fantásticas farras
Sei que aguardam por nós dois.
Seja livre. Vem ser meu!
Vem pra buscar o meu pólen...
Borboletas que me bolem
Nada tiram do que é teu.
Ele:
- Que pedido? Veja bem:
Não há néctar só meu.
Se é de todos, eu também
Não vou sugar só o teu.
Ela:
- Mas o melhor que eu tiver
Será teu: tá garantido!
Como flor vou ser mulher
E, se você me quiser,
Te dou meu mundo florido.
Ele:
- Eu temo que esteja aquém
Do bem que você mais quer,
Mas meu sonho é ser alguém
No teu mundo de mulher.
No meu silêncio, simulo
Sair de vez do casulo,
Porém, sem ser borboleta
Incendiar o planeta,
Dar à vida outro sentido,
Inaugurar outras eras,
Por um fim à tua espera:
Ser de fato o teu marido!
Ela:
- Eu prometo! Veja bem:
Vem buscar o que é teu.
Rompe amarras se as tem,
A distância é que as teceu.
Vem ser feliz logo. Vem!
Vem que eu te quero só meu.
Não existe mais ninguém...
Somos só você e eu!
São Paulo, 05 de setembro de 2013 – 21h38