Pássaros de seda e luz
Do rio grande e doutras margens,
percorrem-se cachoeiras divinas de memória
e, num esvoaçar melodioso de sulcadas asas,
se acentuam recortados, pássaros de seda e luz.
Elevas-me na agitação de bridas quentes de cobiça,
do teu corpo no meu corpo acentuado
e logo decalcado, urgente de tão faminto.
No saber, no sabor e no instinto.
Projectas-te em ogivas brandas, serenadas,
das nossas bocas coladas, que se alongam em
estradas de volúpias rubras. Bagos ébrios de uvas.
Deslizas em intemporal balanço de gozo e de prazer!
Danças ... Danço!
Serão pássaros de seda
as tuas mãos sobre o verde esvoaçante
dos cílios dos meus olhos, neste mar em que te
adivinhas projectado, elevado, completado ...
E a tua boca será perpetuamente rio aberto
a escorrer nas margens partilhadas
de um tempo só nosso, ainda por viver.
Serão os nossos corpos eterno bailado
num palco secreto dos mais finos afectos.
Em ti encontrei a loucura do desejo
e o sacio desta fome de me dar e receber ...
A alma, o corpo, consagrados na
saliva trocada de um só beijo.
Eternizado!