A ordem teatral

Pegadas de sangue, marcas de suor,

Marcando cada presença, desatando os nós.

Do que vale a transfiguração no espelho?

As nuvens ainda dançam ao redor.

Apoios de pés, um descanso de pernas,

Um encosto acolchoado costurado à mão

Um carinho simples colorido com aquarela

Só nos resta agora sentados à janela.

Indague-me e descubra o mundo pulverulento

Algum dia ainda hei de me perder por completo

Viajar no vento, sentir o tempo,

Cativar sossego e permitir o tormento.

Quem sabe, um dia eu te ache sentado à porta.

Olhos negros viajantes, bagunçados cabelos pelo sono,

Teu semblante se cansa e se apoia no meu canto

E eu, um dia hei de viver o sonho.

Teus desenhos pela pele macia e encardida

Teu viver perdido no meio do meu amanhecer

E eu indago o que há de ser

Que me prende, me repulsa, me faz querer ai dentro viver.

Areia cinza desmancha o dia, me faz por dentro corroer.

O corpo esbelto percolado na colcha de retalhos

E em pedaços agora se faz o meu ser

Que cada dia queima a ferida que transgrede o renascer.

Mas o que temer se na hora, certa hora estarei aqui,

Perto o bastante a ponto de não fugir

Longe o bastante para nunca mais correr

Caçando as nuvens que formam todo o ser.