Azar

Não é do meu costume

ser sentimental

muito menos individualista,

como mero feto que sou.

Mas maldita seja essa sombra

que não para de me seguir.

Mesmo que eu jogue Marte

para esmagá-la até as vísceras

ela sai intacta por cima da rocha

e se acorrenta à carne que me forma.

E que eu veja o cupido

ou qualquer maldita criatura

que me amaldiçoou.

Terei o trabalho de arrancar suas asas

forjar um travesseiro de plumas

e o asfixiar até a morte.

Essa coisa que não da pra descrever

com coisa alguma da matéria,

só da pra saber que é uma meia coisa

que depende de outra meia coisa

para ter uma coisa completa.

Meia coisa é veneno.

Coisa inteira é ideia.