Saudade



Saudade, sinônimo de melancolia
Causa-nos dor, devaneios, acabrunha
Dói o peito, inflama a juventude e
o carmin das rosas camufladas
Que murcham nos jardins desoladas
Com sede, morrendo por falta d'água

Palavra triste que lembra distância
Nos remete ao longe, ao que se foi
Nos aproxima da esperança que realça
O brilho dos olhos e os alaridos do coração
Que bate descompassado e cansado
Esperando o sim e temendo o não

Saudade da infância, da escola, da merenda
Da professora, do cheiro da chuva, da turma
Da praia e da areia que faziamos castelos
Repletos de sonhos e de grãos desertos
Que se espalhavam com o sopro do vento
E se misturvam aos contornos das marés

Saudade da arvore que eu subia para catar goiaba
Daquela enorme em meu quintal cheia de manga espada
Da comidinha da mamãe, das roupas que costurava
Do cheiro de café que vinha da cozinha ao amanhecer
Da fumaça do pão quente e da manteiga que derretia
Da terra que cresci e dos valores que tive que aprender

Ah! saudade do meu amor, o primeiro, o verdadeiro
Saudade do beijo atrapalhado que nunca se encaixava
Das cartinhas que escrevia, que nunca entregava
Dos olhares que cruzávamos, das mãos que segurava
Das missas que assistia, da comunhão, da hóstia sagrada

Saudade das brincadeiras de roda, do pique-se-esconde
Do jogo de amarelinha, dos pulos que não podiam pisar na linha
Das brincadeiras de passar o anel, dos jogos de bandeirinha
Das quadrilhas, das festas juninas, ANAVANTUR, ANARRIÊ
OLHA O TÚNEL que já vem o casrroussel em carreirinha

Dos casamentos da roça, do padre maluco, da noiva dengosa
Do noivo sem dentes, com barbicha e chapeu de palha
Do "Mais preto" que dançava com a perna torta, muito engraçado
Nos fazia feliz, aquele menino traquina, bobo e muito atrapalhado
Ficou tudo pra tráz, na caixinha que guarda lemnraças do passado

Dos moleques que se abarroavam correndo atrás das coloridas pipas
Que vinham do céu e caiam sobre a terra, a esmo, num lugar qualquer
As meninas torciam para o seu menino preferido, o sagaz, o mais bonito
Esperando que eles pegassem o troféu e, repletos de sorrisos
Entregavam a menina que os fazia correr para o ludico mundo infinito

Saudade, sinônimo de incompletude e do insipido suspiro doído
Ligando-nos a sentimentos de privações de tudo que nos faz bem
Afasta-nos de muitas coisas, de muitas pessoas, dos sonhos
Me pego com saudade dos sonhos, da vida, das pessoas também
Minhas mãos não mais alcançam, tudo está pra lá de além

Mas sonhos não se acabam, senão a esperança pode morrer
Quero acreditar na vida, no ser humano, nas várias mudanças
E que tudo que perdi conseguirei resgatar com fé e liberdade
Tal aquela criança de olhos fincados no horizonte, vezes vazio
Hoje, já mulher, luta com um coração no compasso da saudade.


Enquanto houver saudade, haverá vida...