O Poeta e a Madrugada.
A luz concebe o espanto
e em silencio some.
A noite desce ao palco o breve manto,
Madrugada!
És tu que destila da brisa,
a poesia que nasce e
finda ao calor da luz que ao dia virá.
Madrugada!
Como encantar-te,
se tu é a sábia,
a louca feiticeira das manhãs?
Madrugada!
Como enredar-te,
se és tu a meretriz consagrada,
divina cortesã.
Bela amante da volúpia temporã.
És musa sem critérios...
Pátria, berço do adultério...
Madrugada!
Belveder de poetas e divãs,
que de ti fazem nascer e morrer o
amor mais consagrado
e a paixão despudorada,
Neste Santo advento,
Desamparado ao relento...
Oh!
Como por ti e em ti pereço?
Sobrevivo e permaneço
me embriago e me despeço
Antes que em ti
adormeça o breu.
Oh, volúvel madrugada!
que morres de inveja
do amor que predestinas...
numa vida e sina pobre
e tão deliciosamente
Madrugada.
Marisa Rosa Cabral.
Out. 2005.