INEXISTÊNCIA
Toquem sinos mudos da alucinação, que é chegada a madrugada...
Recorram ao socorro dessa inércia que me percorre, da seca que me inunda
Que seja agora o nunca, que eu me veja robusto pela fome da lealdade
Porque lá fora a lua é saudade e aqui o céu é barco que se afunda
Qual pedra içada sobre espuma, qual lume em dia que apagou a claridade!
Vestígio do litígio em douta paz, adubo que enternece o fogo que congela
Pois eu sou ela, pois tudo em mim é nada do que meu seria
Abdicar do que queria, morrer por algo da centelha em sentinela
Que passeia indiferença em frente à janela, que diz calada o que ouvir eu não queria!
Nas têmporas intestinais do liquido que salga a face desprezada
Negando a estrada, vivendo às custas de minha morte
Pois digo que sou forte, bem mais até que a tímida inimiga madrugada
A quem também não digo nada, a quem só peço que por mim se importe!
Batam palmas doces acenos que me ignoram...
Fui eu quem fez o teu desenho em relevo à alvorada
E te constitui amada nos vãos da imensidão que te apartou de mim
Para entender que o fim foi sempre o estopim dessa largada
E eu corri qual chuva esparramada, querendo um não desse jamais que diz-me sim!
Querendo esse veneno, buscando em nuvens essa cura
Onde a ternura me propôs eterna guerra
Tirando flores da cratera, plantando amor sem jura
Criado pela criatura, no acerto insistente que te erra!
Pra nunca mais deixar de ser quem nunca fui
Aquele que se constitui de tudo que por ti em mim não for
Herói de meu temor, conquistador que não possui
Inexistente a quem me exclui – doente de amor!