INEXISTÊNCIA

Toquem sinos mudos da alucinação, que é chegada a madrugada...

Recorram ao socorro dessa inércia que me percorre, da seca que me inunda

Que seja agora o nunca, que eu me veja robusto pela fome da lealdade

Porque lá fora a lua é saudade e aqui o céu é barco que se afunda

Qual pedra içada sobre espuma, qual lume em dia que apagou a claridade!

Vestígio do litígio em douta paz, adubo que enternece o fogo que congela

Pois eu sou ela, pois tudo em mim é nada do que meu seria

Abdicar do que queria, morrer por algo da centelha em sentinela

Que passeia indiferença em frente à janela, que diz calada o que ouvir eu não queria!

Nas têmporas intestinais do liquido que salga a face desprezada

Negando a estrada, vivendo às custas de minha morte

Pois digo que sou forte, bem mais até que a tímida inimiga madrugada

A quem também não digo nada, a quem só peço que por mim se importe!

Batam palmas doces acenos que me ignoram...

Fui eu quem fez o teu desenho em relevo à alvorada

E te constitui amada nos vãos da imensidão que te apartou de mim

Para entender que o fim foi sempre o estopim dessa largada

E eu corri qual chuva esparramada, querendo um não desse jamais que diz-me sim!

Querendo esse veneno, buscando em nuvens essa cura

Onde a ternura me propôs eterna guerra

Tirando flores da cratera, plantando amor sem jura

Criado pela criatura, no acerto insistente que te erra!

Pra nunca mais deixar de ser quem nunca fui

Aquele que se constitui de tudo que por ti em mim não for

Herói de meu temor, conquistador que não possui

Inexistente a quem me exclui – doente de amor!

Reinaldo Ribeiro
Enviado por Reinaldo Ribeiro em 10/08/2013
Reeditado em 12/04/2022
Código do texto: T4427555
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