O que não muda

Carrego na pele o peso dos meus anos

Desenhos em Braile de tantos enganos

Mapas e rotas, diários de antigos planos

Momentos inesquecíveis e insanos.

Algumas cicatrizes são rascunhos inacabados

Carnais lembranças de momentos encantados

Outras são quase uma obra de arte

Ricas em detalhe, a cada ínfima parte.

Meus olhos já não possuem certamente a mesma cor

Esmaeceram e perderam o brilho em momentos de dor

Minhas pernas não possuem os músculos tão definidos

Cansadas de vagar por inúmeros caminhos perdidos.

Não vislumbro mais a fugidia esperança no meu norte

Nunca consegui definir como aliada ou inimiga a sorte

Já perdi a conta de minhas luas e marés

De quantas ondas morreram aos meus pés.

Já amei , odiei e voltei a amar intensamente

Reguei com sofridas lágrimas muita semente

Fiz promessas e juras que não consegui manter

Sonhos e pesadelos que não pude esquecer.

Já me apaixonei perdidamente à primeira vista

Já fui abandonado solitário numa pista

Já errei várias vezes numa primeira impressão

Oscilei na tênue linha entre a razão e a emoção.

Apesar de tudo vejo coisas inéditas a cada dia

Ainda me emociono com um sorriso de criança e sua alegria

O que não muda é que ainda a amo mais e mais a cada momento

Ainda é (e sempre será) você a dona do meu pensamento.

Leonardo Andrade