FOI ELA QUEM ME BEIJOU

Essa mulher que já beijou minha boca
Que deixou nela o aroma do vinho efervescente do nosso amor
Que já contemplou o dia nascendo e que me namorou quando as madrugadas queriam dormir
Essa mulher que deixou em mim a marca dos seus mistérios
Que envolveu-se e perdeu-se em mim
Que amou meus defeitos e fez de mim um poeta, que sentiu meu coração fervilhar
Ela que surge agora, que deixou saudades e um triste luar
Que de mim fez tão hirto e sombrio, tão cinéreo, louco e vadio, que deixou-me a falar com estrelas e chorar todo alvorecer
Eis que sinto o eflúvio das flores e mesmo o presságio de um lindo anoitecer
Essa mulher que me deixou rouca a voz, que num desespero soturno só queria gritar
Em pedaços fez de mim aos poucos, e aonde ia, percebia nossos caminhos, e deixava pedaços do nosso amor
Que me arrasa à sua presença e na afeição aos seus traços, cada lembrança orvalhada pela chuva, cada esperança escondida em seu rosto tão lindo, em seus doces lábios de mel
Fazia-me mergulhar em um devaneio qualquer
Todo seu corpo era qual escultura, sua aparição como brilho fulgente a consternar-me à prostração
Ah! Essa que se escondia em cada e em toda lembrança, ei-la a surgir de repente, tal sorri e me vê descontente, eis que tremem as ondas do mar
Os ventos se escondem no transpassar dos véus dos mistérios e a lua sorri seu sorriso... Como posso, como suportarei não a amar?
Aquela em cuja face confundia-se meu rosto, qual todo espelho procurava ocultar-me, cuja fala brindava às estrelas e cada sussurro fazia o sol mais brilhar
Essa mulher que trazia-me os lírios, e o verde das campinas... Ela queria me agradar
Essa tão bela que busca meus pensamentos e que palavras tento esconder
Eis que surge, que vaga como lembrança e cujos passos etéreos prometi para sempre auscultar
Para onde foi minha querida e amada, na pedra cravada em meu peito, na lápide que esconde um sorriso, em cujo seio da terra não queria lhe abrigar?
Ah! Por ela chorarei meu choro queixoso, mas saberei para sempre que foi ela que nesta vida foi um segredo, que aos poucos me ensinou o que é amar
E que por mais que me esforce, que tente, meu coração que a escondeu pelo seu antigo desprezo, já culmina a lhe desenterrar
Pois não haveria outra que me amasse assim com tanto carinho e tamanho desejo
Mas foi ela que beijou minha boca e fez da aurora um ninho para o nosso amor
Eis-me, amada – como posso negar-te? – pois para sempre, para sempre vou te adorar
jairomellis
Enviado por jairomellis em 08/04/2007
Reeditado em 08/04/2007
Código do texto: T441986
Copyright © 2007. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.