POETA NÃO MORRE

Por onde andam meus versos de amor?

Quem calou a boca do poeta romântico que fui um dia?

Olho para a folha em branco do meu caderno de rascunho,

E um mundo enorme, pesado, negro, vazio, silencioso,...

Cai sobre mim, esmagando lembranças, esperanças,...!

Então, fico ali com meu caderno de rascunho na mão,

Qual um zumbi, uma múmia: sem olhos de ver,

Sem coração de sentir, sem cérebro de pensar!

Como um autômato, largo caderno e caneta,

E o vazio e o silêncio vêm me fazer companhia,

E com suas gélidas mãos vazias e frias

Encostam minha cabeça no travesseiro,

E, enquanto velam por mim,

Entorpeço num sono sem fim!

Mas poeta não morre nem de amor nem de porre,

E quando acorda, esconde no travesseiro

Idéias para um poema sobre a vida que corre!

Manoel de Almeida
Enviado por Manoel de Almeida em 04/08/2013
Código do texto: T4419047
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